Todas
as famílias têm a sua quota parte de mistérios, histórias que se
calam. Seja por falta de conhecimento, seja porque levantar o véu do
seu esclarecimento passa também por desvendar facetas dos seus
elementos que se querem longe de julgamentos e censuras. Quem julga
que não tem histórias caladas no seu passado familiar é porque
escolhe não as ver ou porque foi privado de um tal seio, e só isso
é já um silêncio desarmante.
Neste
seu trabalho, Bruno Vieira Amaral (BVA) abre-nos a porta para o seu
contexto: a morte, em circunstâncias nunca devidamente apuradas, de
um primo cuja memória era feita de outras parcas referências
familiares, e o lastro que deixou na família e na comunidade,
inclusive em gerações com nenhum contacto com o mesmo. O
apuramento, passados mais de 30 anos depois, do que levou à morte de
João Jorge torna-se uma viagem obsessiva para encontrar respostas,
que no fundo nunca surgem, porque são impossíveis de obter, e
resulta sobretudo numa (re)descoberta de todo o restante contexto
familiar. Ou seja, descobrir ou constatar, uma vez mais, que “a
família é uma empresa complicada de hierarquias confusas,
obediências, silêncios, recriminações.” (p. 41) E que os que
amamos são detentores de uma história, quando apreendida, que nos
obriga a avaliar ou a testar os nossos sentimentos por eles. Que
descem do pedestal de heroicidade que a nossa infância lhe dota,
para os percebermos, afinal, capazes de tudo o que julgamos não
fazer parte da nossa história, da nossa memória.
Qual
o impacto desse conhecimento, “Onde é que a história da nossa
família contamina a nossa história individual?” (p. 297) É uma
questão que só cada um pode responder e tentar descobri-lo através
dos nossos mortos é uma demanda vã, pois “Porém, bem sei, não
são os mortos que falam connosco, nós é que precisamos
desesperadamente de os ouvir. (…) Somos nós que imploramos por
sentido, para que os nossos mortos não tenham morrido em vão, para
que as nossas vidas não nos pareçam tão absurdas.” (p. 359)
Editora:
Quetzal | Colecção: língua comum| Local: LX | Edição/Ano: 1ª,
abril 2017 | Impressão: Bloco Gráfico | Págs.: 363 | Capa: Rui
Rodrigues | Ilustrações: algumas fotografias |
ISBN: 978-989-722-358-7 | DL: 421906/17 | Localização: Pax
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