Esta nova
incursão na escrita de GMT deveu-se ao desafio colocado por Isabel Zilhão, que
dinamiza uma nova comunidade de leitores dedicada à relação entre ciência e
Literatura e que tem lugar na biblioteca Galveias. E sobre isso falarei num
novo post.
Como sempre, a
leitura de GMT é algo que me resulta estranho e incómodo… mas que,
simultaneamente, sinto necessidade de reincidir. Creio que esta estranheza
aporta da sensação de que há inúmeras referências que me escapam. A sua
erudição, que é transversal a tantas áreas de conhecimento, coloca uma fasquia
de compreensão que o meu património de leituras e referências não é capaz de atingir.
E este é um dos motivos do meu desconforto, afinal, quem gosta de ser
confrontado com as suas limitações? O segundo motivo é a extrema racionalidade
da sua escrita. Nada é aleatório e sem intenção. O que parece deixar a emoção
de fora. Vence-nos a estranheza, e por vezes a bizarria e o grotesco, das suas
personagens, mas não as suas emoções e sentimentos, de que, na maioria das
vezes, parecem desprovidos ou, no mínimo, demasiado anestesiados para que
possam ser deveras sentidos.
Então, o que nos
instiga e conquista na leitura de GMT? As reflexões a que nos obriga em virtude
do confronto em que nos coloca com as mais inusitadas, e por vezes abjectas,
situações e personagens.
Neste Matteo…, é
nos apresentado um conjunto de personagens peculiares ordenado alfabeticamente,
como o poderia ter sido de outra forma qualquer, sem o qual seria impossível chegar
a Matteo. Como qualquer “sistema de ligações”, este confere uma “ordem externa”,
mas ainda assim necessária, para uma tentativa de entendimento de uma possível realidade
entre “infinitas ordens.” E através destas personagens somos levados a diversas
reflexões como: o que é a escolha e se existe realmente escolha; o que é
loucura ou sensatez, razão ou verdade, o que as difere, se é que há alguma
diferença; a nossa educação serve-nos ou é somente lixo ao qual necessitamos
sobreviver para singrar; o impacto construtivo do não; a circularidade da
narrativa e da vida quotidiana; a supremacia actual da racionalidade como forma
de apreensão do que nos rodeia; o erotismo do grotesto; o homem perante o
labirinto que nos reduz a respostas únicas como sendo verdades únicas; a
necessidade humana de organizar e dar sentido aos caos e ao aleatório; a
incapacidade de aceitar o outro, a diferença, o aleatório e o inexplicável. E
mais… muito mais…
Editora: Porto Editora | Local: Porto |
Edição/Ano: 2ª, Dez 2010 | Impressão:
Bloco Gráfico, Lda. | Págs.: 210 | Capa & Ilustração Fotográfica: Diogo
Castro Guimarães & Luís Maria Baptista | ISBN: 978-972-0-04290-3 | DL:
314969/10 | Localização: BLX PF 82P-34/TAV (80238835)
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