Português para Estrangeiros: 4 anos de uma aventura sócio-linguística


Em 2015, ao integrar a rede de bibliotecas de Lisboa, desafiaram-me a desenvolver um projecto de ensino não formal de português para estrangeiros. Este iniciou-se em 2016, e agora, com a aproximação de final do ano, encerra-se um período de 4 anos que me impele a sistematizar diversas reflexões.
A primeira é que esta tem sido uma aventura sócio-linguística cuja ressonância e dimensão não é possível quantificar porque se está a estender-se e a abranger cada vez mais pessoas, seja participantes, seja colegas a dinamizar sessões similares ou complementares. Em 2020, prevê-se que sejamos 6.
Este projecto levou-me a rever aprendizagens, a repensar a língua e como a utilizamos. A sua origem, a origem das suas regras, a sua evolução pelo erro e pelo uso quotidiano, o modo como oscilamos entre a vontade de a fixarmos e o modo como a sua utilização escapa a esta vontade.
Já no plano humano, tenho reflectido muito sobre o que leva alguém a deixar o seu país. Que sonhos, ambições, medos e anseios comportam todos aqueles que, por decisão ou imposição, se vêem num país que não o seu. E o que faríamos nós, se estivéssemos no seu lugar? Face a isto, também me questiono sobre o queremos enquanto país de acolhimento, seja temporário ou definitivo, inseridos num xadrez geopolítico em que o valor da vida já nem passa por belas intenções num papel. Podemos ainda ser, não a miríade, mas o porto seguro para quem nos procura? Como podemos integrar tanto manancial e potencial humano num país envelhecido que não sabe ou não ou não consegue dar respostas inclusive aos seus nativos.
Tenho conhecido tanta gente, oriunda de tantos países e em condições tão diversas, que cada vez me sinto mais pequenina e simultaneamente mais rica por ter abraçado este desafio. Obrigada.

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