O irmão alemão, Chico Buarque

 Chegamos a este livro com o chamariz “baseado em factos reais”: o conhecimento do autor sobre a existência de irmão nascido em Berlim em 1931. Não demoramos muito a perceber, que este é um ótimo exemplo de auto-ficção. O exemplo de que um acontecimento real e semelhanças entre episódios de vida não significam um narrar do real, mas uma possibilidade verosímil.

Um dos pontos de interesse deste livro, é exatamente a exploração das inúmeras possibilidades de vidas para este irmão, em que a imaginação ocupa o lugar vazio dos factos. Este irmão nunca conhecido que ocupa o lugar do irmão real, mas sem afinidade, e de várias outras personagens/pessoas ao logno da vida do narrador e da sua busca, não incessante, mas como uma pedra no sapato de que não se consegue livrar.

Apreciei o modo como o autor, ao longo da narrativa, vai gradualmente tentando perceber como os adultos envolvidos lidaram com o assunto durante uma época politica tão complexa. Há capitulos, em que se revela uma autêntica carta ao pai, incapaz de reaver este filho perdido e sempre perdido no mundo dos livros. É igualmente uma ode à literatura, capaz de acolher todas as dores e possibilidades.

Mas talvez o que mais apreciei nesta narrativa é o facto da busca pelo irmão alemão se apresentar como um pretexto para revisitar uma parte da sociedade e um período da história conturbada do Brasil em contraponto com a da Europa algumas décadas antes. O modo como acompanhamos como poderá ter sido o escalar do regime nazi em paralelo ao eclodir da ditadura militar no Brasil. O modo como dois regimes tão semelhantes, em décadas e hemisférios diferentes, fazem o seu reino de terror e obrigam os seus cidadãos à fuga, ao ostracismo, à tortura e à morte.

Editora: Companhia das Letras | Local: LX | Edição/Ano: 1ª, fev 2015 | Impressão: Printer PGsa | Págs.: 190 | Capa: Raúl Loureiro | ISBN: 978-989-8775-23-8 | DL: 387473/15 | Localização: BLX Marv 82P(81)-31/BUA (80331465)


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