O dia cinzento e outros contos, Mário Dionísio

Esta foi a minha primeira incursão na escrita deste autor, cuja obra polifacetada está na origem de um grande dinamismo cultural, não só através da análise que suscita, mas também pela actividade da Casa da Achada.
Esta leitura foi uma grata surpresa. Mas, o que há a dizer sobre este livro? Tanto, poderemos dizer. Mas a verdade é que pouco se pode acrescentar ao que o próprio autor já nos diz no seu prefácio para a reedição de 1977. Segundo este, o objectivo da sua escrita é “acordar naqueles que o lessem a consciência da injustiça social e a necessidade de agirem contra ela.”; “o fito era contribuir … para a transformação do mundo.” (p. 11) E como é que o pretende fazer? Mostrando “o lado de dentro das pessoas, isto é, que um certo conceito superficial da luta de classes tendia a reduzir a fórmulas estereotipadas…” (p. 15)
A escrita de Dionísio é profundamente marcada pela ideologia política, mas isso não significa a adopção de um discurso maniqueísta. Aliás, as suas personagens espelham humildemente as dúvidas e receios que as suas escolham implicam, porque isso significa deixar para trás perspectivas de vida e pessoas. O que nem sempre se revela fácil ou simples: “Era preciso que esse mundo e esse destino, esse sonho, pesassem mais do que a ternura daquela boa rapariga.” (p. 94); “planos de quem resolveu escolher, em cada caso, a situação menos confortável porque qualquer outra se lhe afigura fruto da injustiça.” (p. 198)
Situado cronologicamente, e pelos seus críticos, na corrente do neo-realismo, o próprio autor explica o que há de diferente na sua escrita: “a fase inicial do neo-realismo está cheia de campo e camponeses ou dos meios que, mais ou menos directamente, a eles se ligavam: a aldeia, a a vila, a cidade de província.” Mas não é nestas gentes e locais que o autor vai buscar a sua matéria prima, porque “ havia a cidade, a grande cidade, a descobrir também.” (p. 14)
A sua escrita é de aparente simplicidade, simultaneamente reconfortante e aliciante, consonante com o tipo de homem que a sua escrita quer retratar: um homem sem artifícios, disposto a sacrifícios por um ideal, mas sem deixar de avançar indelevelmente.
“Às vezes as coisas mudam, … Pequenas mudanças que nos dão força para grandes mudanças.” (p. 111)

Editora: Europa-América | Colecção: Livros de Bolsos (nº 182) | Local: Mem Martins | Edição/Ano: 4ª, Maio 2011 | Págs.: 214 | ISBN: 978-972-102801-1 | DL: 327726/11 | Localização: BLX SL 82P-34/DIO (80304531)

Comentários