Esta
foi a minha primeira incursão na escrita deste autor, cuja obra polifacetada
está na origem de um grande dinamismo cultural, não só através da análise que
suscita, mas também pela actividade da Casa da Achada.
Esta
leitura foi uma grata surpresa. Mas, o que há a dizer sobre este livro? Tanto,
poderemos dizer. Mas a verdade é que pouco se pode acrescentar ao que o próprio
autor já nos diz no seu prefácio para a reedição de 1977. Segundo este, o
objectivo da sua escrita é “acordar naqueles que o lessem a consciência da
injustiça social e a necessidade de agirem contra ela.”; “o fito era contribuir
… para a transformação do mundo.” (p. 11) E como é que o pretende fazer?
Mostrando “o lado de dentro das pessoas, isto é, que um certo conceito
superficial da luta de classes tendia a reduzir a fórmulas estereotipadas…” (p.
15)
A
escrita de Dionísio é profundamente marcada pela ideologia política, mas isso
não significa a adopção de um discurso maniqueísta. Aliás, as suas personagens
espelham humildemente as dúvidas e receios que as suas escolham implicam,
porque isso significa deixar para trás perspectivas de vida e pessoas. O que
nem sempre se revela fácil ou simples: “Era preciso que esse mundo e esse
destino, esse sonho, pesassem mais do que a ternura daquela boa rapariga.” (p.
94); “planos de quem resolveu escolher, em cada caso, a situação menos
confortável porque qualquer outra se lhe afigura fruto da injustiça.” (p. 198)
Situado
cronologicamente, e pelos seus críticos, na corrente do neo-realismo, o próprio
autor explica o que há de diferente na sua escrita: “a fase inicial do
neo-realismo está cheia de campo e camponeses ou dos meios que, mais ou menos
directamente, a eles se ligavam: a aldeia, a a vila, a cidade de província.” Mas
não é nestas gentes e locais que o autor vai buscar a sua matéria prima, porque
“ havia a cidade, a grande cidade, a descobrir também.” (p. 14)
A sua
escrita é de aparente simplicidade, simultaneamente reconfortante e aliciante,
consonante com o tipo de homem que a sua escrita quer retratar: um homem sem artifícios,
disposto a sacrifícios por um ideal, mas sem deixar de avançar indelevelmente.
“Às
vezes as coisas mudam, … Pequenas mudanças que nos dão força para grandes
mudanças.” (p. 111)
Editora: Europa-América | Colecção:
Livros de Bolsos (nº 182) | Local: Mem Martins | Edição/Ano: 4ª, Maio 2011 | Págs.:
214 | ISBN: 978-972-102801-1 | DL: 327726/11 | Localização: BLX SL
82P-34/DIO (80304531)
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