O desafio da escrita diária

O desafio da escrita diária parece uma óptima premissa para escoar todas as dúvidas, angustias, ansiedades e até algumas parcas certezas sobre o que nos rodeia, quer nos chegue pela experiência directa, pela notícia do jornal ou pela palavra demorada de um livro. O problema é que há dias em que tudo parece desenrolar-se a um ritmo incomportável para as insuficientes 24 horas, quanto mais para se parar, sentar e reflectir sobre as mesmas.
Nesses dias, a escrita não é um escoamento. É antes um ralo que se entope de acontecimentos, pensamentos soltos e saltitantes cuja velocidade não permite qualquer filtro, nem sequenciamento, nem consequente aproveitamento para lá da espuma dos dias. E a escrita de umas meras linhas transforma-se num trabalho hercúleo, um excesso impossível de abarcar, de peneirar e de perceber oq eu vale a pena.
Para contrapor, necessitamos de dias andinos, anónimos, amorfos. Em que pegamos um fio e talvez este nos oriente no emaranhado que dará origem à meada. Em que o tempo fica no exterior da sala, do quarto ou de uma simples mesa onde pousar um caderno e uma caneta, há falta de ferramentas mais tecnológicas.
Os dias da não vida são os dias em que a escrita encontra o seu caminho: os pensamentos cedem prioridades e estabelecem uma ordem interior. A mão apoiada numa folha de papel sabe instintivamente o que desenhar. o texto começa a tomar forma e sentido, segundo um ritmo próprio que o levará até ao final da página, onde decidirá se coloca um ponto final ou se fará uma pausa e retomará, com um novo fôlego, a página seguinte. 



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