O meu percurso profissional levou-me a trabalhar em
bibliotecas. Exatamente: trabalhar em. Não sou bibliotecária. Não tenho
formação académica na área. Assim, não me considero, e intitular-me como tal
poderia também ser considerado ofensivo por quem tem esta formação especifica.
Estarei então qualificada para tal? Sim.
A minha formação académica em Língua e Literaturas
modernas, variante de Português-Inglês, deu-me os conhecimentos teóricos sobre
como a literatura reflecte e questiona o pensamento humano e a sua evolução. A experiência
de mais de uma década na área da juventude, com a sua transversalidade e o modo
como a educação não formal e a aprendizagem ao longo da vida ocupam um lugar na nossa formação, deram-me
perspectivas e ferramentas que me permitem adaptar a diversas áreas de actuação. Uma
pós graduação em práticas culturais para municípios, complementada igualmente
pelo acompanhamento na gestão dos espaços municipais de juventude de Sintra,
deram-me uma visão dos equipamentos culturais (e não só) como um todo e como as
suas características físicas, missão e valores, inserção social e comunitária e
recursos humanos contribuem para a sua dinamização. Já a minha experiência como
dirigente associativa preparou-me para perceber a malha de influências que têm
impacto na gestão de recursos, sejam eles materiais, mas, mais relevante,
humanos. E, acima de tudo isto, sou leitora e, como público,
tenho sempre a noção de como um espaço pode e deve suprir as minhas
necessidades.
Relativamente à área de biblioteconomia, os
conhecimentos específicos também se aprendem. Conceitos como fluxo de
informação, CDU, LCA, catalogação, indexação, depósito legal, aquisição,
desbaste, abate, gestão da colecção, disposição e apresentação, áreas
funcionais, usos internos, leituras de presença, empréstimo, referência,
depósito, entre tantas outras, podendo ainda não ser íntimos, são-me já
familiares. Gradualmente, quer através da prática, quer através de leituras,
tenho vindo a assimilar muita informação e, hoje, não sinto que faça um
trabalho inferior a quem tem formação académica nesta área. E se me falta
burilar alguma sensibilidade, dêem-me tempo. Lá chegarei.
A questão que me coloquei, uma vez que tenho
como objectivo pessoal obter um novo grau académico, é se esta área de formação será o caminho a seguir? No entanto, desde já ferindo algumas susceptibilidades,
a minha resposta é não. A profissão de bibliotecário e as próprias bibliotecas
estão a mudar. Sobretudo devido às novas tecnologias e novos desafiam que se
colocam na gestão e dinamização destes espaços e que passam por novas transversalidades.
E essa será a minha aposta. Embora ainda não o possa precisar como o
concretizarei, pretendo aprofundar conhecimentos sobretudo na gestão de
equipamentos e projectos. Penso que isso me entreabrirá mais portas no futuro
cada vez mais transversal.
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