Tendo a ambição da
escrita, esta é talvez a pergunta que mais me inquieta. Que tenho a
dizer e como? Seguida de: haverá quem a queira escutar? Mas essa
será necessariamente uma questão secundaria, pois o meu primeiro
ouvinte serei sempre eu. E algo terei para conversar comigo própria.
Será talvez um diálogo louco, talvez vazio. Talvez não chegue a
ser sequer um diálogo. Apenas um solilóquio com a ilusão de algo
mais.
Dai que a minha voz não
se encontre num registo ficcional. Será um registo mais pessoal.
Pensei talvez num ghost writting, mas chego à conclusão de que só
posso escrever sobre os meus fantasmas e nunca dar corpo a outra voz.
Será a minha uma escrita de auto-ajuda? Nunca para terceiros, que os
meus conselhos não servem a ninguém. Talvez nem a mim.
O mais que posso deixar
em páginas soltas são as crónicas das minhas dúvidas, que essas
sim abundam na minha mente. Tanto que, por vezes, me impedem mesmo de
transcrever para o papel seja o que for. No entanto, são estas
crónicas duvidosas que me levam a procurar a melhor versão possível
de mim. E esse será talvez o único compromisso possível de
escrever.
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