Neste retorno à
obra de Agualusa, reencontro algumas das caracteristicas que me
apelam na sua escrita: a prosa poética, suave e subtil, o realismo
mágico no qual se integram crenças variadas, a ponte geográfica e
física da língua portuguesa, o dicionário onírico. No entanto, em
termos de construção e desenvolvimento da história ficou-me um
sabor de aquém.
Estamos perante
uma distopia, segundo a qual o mundo sofre um dilúvio ecológico e
uma reduzida parte da população é selecionada para habitar no céu,
recorrendo aos mais variados tipos de balões. Consoante a origem
geográfica e poder financeiro, as novas geografias correspondem não
a fronteiras nacionais mas a metrópoles reunidas em enormes zepelins
ou em conjuntos agrupados de balsas voadoras. É num destes
conjuntos, Luanda, que vive Carlos, um jovem de 16 anos, que parte
à procura do seu pai, caído no céu e dado como morto. Na sua
demanda encontra uma galeria de personagens que o levam em busca da
mítica Ilha Verde, um pedaço de terra situada algures na antiga
Amazónia, que terá sobrevivido ao Dilúvio.
Gostei bastante
do exercício de construção de uma sociedade “pós-apocalíptica”,
só que o mesmo não ata todos os nós que apresenta ou a sua
“atadura” não é coerente. Ou seja, existem algumas falhas de
coerência interna. Mas o que me deixou com a sensação de aquém é
mesmo o desenvolvimento das personagens, que nos são apresentadas de
modo muito superficial e sobre as quais não reconheço anteriores
experiências de “descascamento” a que o autor já me habituou.
Pergunto-me se esta ligeireza se deve à intenção de que este este
seja um Romance para jovens e outros sonhadores? É a única
explicação que me ocorre.
Como elemento de
valorização do livro, é incontornável o dicionário dos
nefelibata, no qual reconhecemos a poesia onírica a que Agualusa já
nos habituou.
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