O Retorno, Dulce Maria Cardoso

Cheguei a este livro com a curiosidade de quem nunca percebeu ao certo o que era um retornado. Dos tempos de infância, ficou sempre um certo tom de desprezo com que a palavra era dita. Dos tempos de escola, a noção de um regresso abrupto de quem era forçado a deixar uma terra que se tornara sua. Nos tempos de adulta, parecia uma realidade ultrapassada. Afinal, não.

Afinal, havia uma geração de portugueses que necessitava de se exorcizar e conseguiu-o com a ajuda deste livro. A geração de quem regressou a um país em que muitos não tinha sequer nascido. A geração de quem trabalhou para construir algo e que tudo teve de deixar. A geração de quem, de repente, viu chegar aqueles que supostamente tinham uma vida desafogada e de um certo fausto. Algo impossível por aqui. A geração que de repente se teve de confrontar com a prova de que existia um outro mundo lá fora, com outras cores e outras ideias de possibilidades. A geração de quem sentia que o país era pequeno demais para todos.

O grande mérito deste livro é a prespectiva do retorno por quem o viveu. Os seus medos, a sua ansiedade, os seus sonhos transformados em pó, a sua necessidade de criar um novo sonho, uma nova vida. De se reconstruir. E esta perspectiva é nos dada por Mário, um jovem no virar para a idade adulta. Também ele a viver a transformação do seu corpo e da sua maturidade e sem qualquer possibilidade de retornar a uma qualquer infância idílica ou idealizada. Tal como foi a presença dos portugueses em África. Idílica para uns quantos. Idealizada para outros tantos.

E finalmente vislumbrei uma compreensão que nunca tinha atingido.

Editora: tinta da China | Local: LX | Edição/Ano: 1ª, reimp. Out 2015  | Impressão: Bloco Gráfico, Lda. | Págs.: 318 | Capa: Rui Rodrigues | ISBN: 978-989-722-171-2 | DL: 375749/14 | Localização: BLX PG 82P-31/CAR (80384610)

Nota: Texto escrito para Sugestão de Leitura solicitada pelas Bibliotecas de Loures, para a sua página de Facebook (08/05/20)

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@ Adelaide Bernardo


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