“… sabia que a literatura é uma invenção essencial dos homens?
(…) Na realidade, é a criação mais valiosa da humanidade na sua
tentativa de se entender a si mesmo.” p. 19
Cheguei a este pequeno livro através das sugestões do grupo do O que andamos a Ler? do Facebook, onde vou partilhando algumas leituras
e alguns, escassos, registos sobre as mesmas. O que mais me chamou a
atenção foi o título, Perder Teorias, e porquê? Embora nos
estudos literários não possamos escapar às teorias, aos géneros,
à tentativas de catalogar e esmiuçar a obra literária, considero
que no momento da leitura, aquele momento de partilha íntima entre
nós e o conteúdo do livro, as teorias são indiferentes. Em última
análise, temos de ser nós e ele e o diálogo resultante entre
ambos, sem expectativas ou imposições exteriores. Mais do que
teorizar, temos de nos permitir sentir a obra, para que qualquer
eventual poder transformador da mesma possa actuar. Pelo menos, assim
deveria ser.
Perder Teorias relata-nos o processo de espera do narrador, quiçá
Vila-MAtas, enquanto aguarda que um representante da organização
que o convidou para uma palestra na cidade francesa de Lyon o
contacte com pormenores sobre o evento e a sua participação no
mesmo. Como o contacto tarda, o narrador predispõe-se, a partir de
uma reflexão sobre a obra de Julien Gracq - cujo trabalho
desconheço, mas que entretanto acrescentei às minhas intenções de
leitura futuras – a escrever uma teoria geral do romance,
estipulando aspectos que considera irrenunciáveis ao romance
contemporâneo. A saber: a “intertextualidade”; as ligações com
a grande poesia; a escrita vista como um relógio que avança; a
vitória do estilo sobre a trama; e a consciência de uma paisagem
moral nociva. Paralelamente, apresenta o romance como reflexo ou
tentativa de compreensão da vida e se “interroga acerca do sentido
da espera nessa longa espera que é a vida.” (p. 9)
Em jeito de conclusão, é um pequeno volume, de fácil leitura, que
recomendo pela viagem simultaneamente simples e acessivel, com
hipóteses e sugestões para aprofundar outras leituras, por alguns
dos conceitos que norteiam a literatura e pela defesa de que para se
escrever um romance há que deixar fora as teorias e passar à acção,
ou seja, à sua escrita: “escrever directamente um romance, é um
método muito directo de fazer teoria.” (p. 31)
Tradução:
Jorge Fallorca | Editora: Teodolito (Edições Afrontamento) |
Edição: 1ª | Ano: 2011, Setembro | Impressão: Rainho & Neves,
Lda.| Págs.: 8 | ISBN: 978-989-97474-0-1 | DL: 332924/11 |
Localização: BLX DMF 82-31/VIL (80336801)
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