Curvas ou intersecções (no caminho)

A propósito da leitura de A Curva da Estrada, de Ferreira de Castro, Cristina C., uma profunda conhecedora da sua obra, observou que para este autor a metáfora de acontecimentos que alteram o nosso percurso previsto é sempre uma curva e não um cruzamento ou uma intersecção.
Esta observação levou-me a reflectir. Quando perante obstáculos, alteramos realmente o nosso caminho, seguindo outra direcção, ou ultrapassamos, ou contornamos, o que se coloca à nossa frente?

Quantos de nós muda realmente de direcção? Deveríamos sequer? Sim, há sempre sins. Mas, deste modo, não estamos a afastar-nos daquilo que primordialmente definimos para as nossas vidas? Ou será esse afastamento uma outra forma de chegarmos aos nossos objectivos? Por vezes, uma estrada pejada de curvas e contracurvas abruptas obriga-nos a abrandar, a redobrar a nossa capacidade de observar o que nos rodeia, a ter atenção ao que nos rodeia. O nosso crescimento e maturidade advém não dos acontecimentos per si, mas de como lidamos com eles, do que aprendemos com eles. Para isso é necessário muitas das vezes abrandar, observar e avançar com cuidado. São as curvas que nos impedem de cair no precipício e nos fazem apreciar a estabilidade do caminho a posteriori. Sem elas, seriamos capazes de apreciar qualquer beleza na velocidade de um caminho a direito?

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