Em rescaldo de leitura de Lavoura Arcaica e Um Copo de Cólera, de Raduan Nassar, dou por mim a reflectir nas suas personagens
femininas e no papel que o autor lhes atribui. E que papel é esse? De subjugação.
Ana submete-se ao desejo de André e à autoridade do pai. No único
momento em que tenta rebelar-se a consequência é fatal. X (chamei-lhe assim)
tentar impor a sua voz a Y, mas este vence pelo desejo sexual. Seja em contexto
familiar, seja numa relação a dois, as mulheres parecem sempre votadas à
anulação como castigo para a instigação do que, eventualmente, será o lado
negro dos homens: a sua incapacidade de ceder o poder ou autoridade. O desejo
natural é castigado. O desejo de igualdade na relação é aniquilado.
Em última análise, a questão que se coloca é: poderá, sequer,
haver relacionamentos sem relações de poder? Ou qualquer relacionamento é uma
demonstração de poder? Porque, neste caso, a mulher é apresentada sempre numa
posição de perda e impotência.
Resta-me ler o último livro do autor, Menina a caminho, para inverter esta imagem que o autor me deixa. Será?
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