Imagino
que há mais verdade na história de Roque
Santeiro, telenovela da Rede Globo de 1985, do que em muitas
hagiografias. A ficção por vezes consegue ser mais verdadeira do
que a realidade.
Não
ponho em causa o sentimento de fé ou crença. Nem a necessidade
extrema de um milagre que dê alento a vidas miseráveis, em que não
há promessa goradas, porque a promessa é um voto de esperança onde
esta nem sequer germinou. Ponho em causa a necessidade de deuses e
seus fieis assistentes administrativos, em que delegamos queixas,
orações, reclamações e esclarecimentos para as vidas que não
temos.
Lamento
o destino das crianças enredadas em luzes que não sabem explicar e
os adultos das medalhas que visionam mais longe. Adultos inteligentes
o suficiente para vislumbrarem o que mais ninguém vê. Enquanto as
crianças apenas anseiam por uma atenção ou fogem à violência
enquanto quotidiano ou castigo por uma tarefa não efectuada. As
crianças deveriam apenas ser crianças, mas o mundo é desses
quantos homens que nos impõem a sua vontade e as crianças morrem de
um futuro ausente.
Sinto
sempre uma enorme necessidade de relativizar certos relatos. Uma das
razões de o fazer é o acreditar no efeito placebo de certos
procedimentos religiosos, tal como acredito numa certa capacidade de
auto-regeneração através da meditação e de estados de transe.
Outra das minhas formas de manter uma certa perspetiva é recordando
a máxima: todos os santos têm um passado e todos os pecadores têm
um futuro.
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