O efeito (terapêutico) da leitura partilhada

Ultimamente, tenho-me cruzado na internet com vários debates sobre a biblioterapia, os seus contextos e quem está, ou não, habilitado para o fazer. As opiniões divergem em vários pontos, mas todos reconhecem que, em determinados níveis e situações, a leitura é benéfica. Logo, quem se encontra num papel de aconselhamento e dinamização de leituras pode ter um papel preponderante no bem-estar dos leitores. A minha prática e experiência pessoais permitem-me tecer uma ou duas constatações e outras tantas opiniões.
A nível pessoal, a leitura, ao permitir-me perceber o olhar do outro, tem contribuído para (uma tentativa de melhor) compreender o que e quem me rodeia e para relativizar os momentos menos bons. E esta, como ponto de partida para alguns exercícios reflexivos de escrita, dá-me ferramentas para me organizar mentalmente. E ambos, leitura e escrita, como duas faces da mesma moeda, são oportunidades de diálogo interno que contribuem para um equilíbrio interno neste mundo de loucos e que há-de ser sempre louco.
A partilha presencial de leituras é um outro momento. Posterior. Mas, tanto ou mais benéfico. Porque se a leitura e a escrita são momentos individuais e solitários, a partilha são momentos de convívio. Por vezes, podem ser desconfortáveis (e até aterradores). Verbalizar, pela primeira vez, perante outras pessoas uma opinião ou uma impressão obriga, em primeiro lugar, a formaliza-la e, só isso, exige de nós uma posição perante algo. O que nem sempre é um processo fácil.
Em contra partida, é reconfortante perceber que o temos a dizer é aceite, compreendido e, por vezes, é até contribuir com uma perspectiva que o outro não tinha vislumbrado.

Quando, a partir de um livro, se partilham contas de alguns rosários pessoais, são momentos muito especiais e marcantes. Ser receptor deste tipo de confiança é um privilégio e faz parte dessa confiança que os desabafos aí relatados não transbordem para outros locais e outras circunstancias. E nesse aspecto, funciona (ou deve) como terapia de grupo. É claro que, na dinamização de partilhas de leituras, devemos estar conscientes das nossas limitações pessoais e profissionais e não substituir outras formas de acompanhamento especializado. No entanto, é claro para mim que nesse momento contribuímos com algo tão simples, e por vezes tão menosprezado, como estar presente e escutar. 


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