As bibliotecas têm alterado as suas dinâmicas,
acompanhando a evolução social. Hoje, são, sobretudo, espaços transversais de
âmbito cultural, que procuram satisfazer as necessidades das comunidades para
além do típico acesso à informação, actualmente, acessível a partir de um qualquer
clique.
Sem falar do acesso à informação, pois
já ninguém, técnicos e utilizadores, passam sem o acesso informático sem fios. Quando
falamos destas como pontos de encontro e convívio da comunidade, há que lidar
com uma das suas caracteristicas tradicionalmente associadas: o silêncio. Como
é que se encontra alguém no silêncio? Como é que se convive em silêncio? É possível
mudar-se sem perder determinadas características? Quais destas são abdicáveis?
Quando numa sala há uma reivindicação
de silêncio, e dependendo do grau de ruído, é habitual um técnico defender-se
com a afirmação: lamento, mas esta não é uma biblioteca de silêncio absoluto.
Em várias situações, os utilizadores não sabem o que dizer e a reivindicação
fica por aí.
Podemos falar na necessidade em estabelecer
limites. Sim, mas e onde ficam esses limites? O que é isto de se solicitar
silêncio (a alguém) quando, em nome do progresso, convivem num mesmo ambiente
toques de telemóvel, sons de maquinaria vária como ar condicionado, alarmes,
apitos, tamborilares em teclados, avisos informáticos, etc. e nós somos um dos
seus produtores.
Seja enquanto técnica, seja enquanto
utilizadora, o que mais me irrita é exactamente essa profusão de barulho de
fundo irritante causado pelos mil e um aparelhometros que temos nos nossos
espaços, na sua maioria desadequados. Quando ao barulho provocado pelo diálogo
entre utilizadores, se moderado e feito de forma respeitadora, na sua maioria
não me incomoda. Isto quer dizer o quê? Que os espaços não são apenas nossos e
como tal não devemos impor o nosso diálogo a quem nos rodeia. Gosto de ver
jovens a trabalhar em conjunto, a tirar dúvidas, a organizar trabalho. Não gosto
de conversas sobre outros assuntos, não gosto de tons de voz elevados, de
chamadas de atenção mais barulhentas que o ruído de origem.
Diria que os espaços para serem dinâmicos
necessitam de uma comunicação e da sua expressão. As bibliotecas também. Aqui,
enquanto técnica, o que muitas vezes posso e devo fazer é a consciencialização
dos nossos públicos, mas sem dogmatismos. Nem todos os públicos foram educados
para ser públicos e há indivíduos que não são educáveis. No entanto, através do
diálogo chegamos a bom porto. Afinal, ainda estamos numa biblioteca!
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