“… trata-se de um livro em que me
limito a fazer perguntas em voz alta sobre várias coisas e no qual procuro
avançar as respostas.” (p. 8)
Não sou uma desportista. Posso ter uma
certa inveja (e esta não é a palavra certa) de quem o é e retira prazer da sua
prática. Racionalmente, entendo os benefícios e o prazer que a produção de
certos níveis de adrenalina e outras substâncias conferem. Mas o esforço… o
esforço necessário… esse investimento nunca me convenceu.
Já a escrita, e que sempre considerei
como um processo semelhante ao da corrida de fundo, é algo que sempre busquei e
na qual me tenho encontrado amiúde. O seu esforço não me assusta. Mas a
resistência e a persistência que lhes são inerente não têm sido uma aquisição
fácil ou rápida. Lenta e gradualmente tenho feito um percurso que está longe de
dar frutos, mas a caminhada está iniciada.
Há muito que este livro me tinha
suscitado curiosidade. E não me desiludiu. Ao longo do que me pareceu um suave
passeio, o autor relata-nos a sua experiência enquanto corredor de fundo e o
modo como esta moldou o seu carácter e, consequentemente, a sua escrita. Das várias
comparações que o autor tece, saliento:
- p. 18) … verdadeiramente
importante é o facto de, com a sua escrita, o escritor atingir a
finalidade a que se propôs, o nível que estabeleceu como meta. (…) o
escritor possui uma motivação interior, uma força calma que não necessita
de aprovação nem de ser validada através de critérios exteriores.
- p. 84) … qual a qualidade mais
importante para ser romancista?
- Talento: … o dono … não domina
nem a quantidade nem a qualidade do mesmo.
- Concentração e persistência:
adquiridas e melhoradas com a ajuda de exercícios.
- p. 87) Para mim, escrever
romances é fundamentalmente um trabalho físico. A escrita em si talvez
seja um trabalho intelectual, mas dar forma a um livro inteiro, acabar de
o escrever, tem mais que com o ofício manual.
Esta leitura sedimentou um pouco mais
a minha vontade de persistir na escrita. Seja ela lida ou não, reconhecida ou não.
É através dela que me vou entendendo e ao mundo. O que talvez tenha contribuído,
algo inesperadamente, foi para a consciencialização da necessidade de cuidados
físicos mínimos para que o corpo suporte as exigências mentais e físicas da escrita.
Só quem escreve sabe o trabalho por trás de uma aparentemente simples página
A4.
Título Original: What I talk about
when I talk about running | Tradução: Mª João Lourenço | Editora: Casa das
Letras | Local: Alfragide | Edição/Ano: 1ª, Nov. 2009 | Impressão: Multitipo
AG, Lda. | Págs.: 186 | Ilustrações: fotos do autor | ISBN: 978-972-46-1923-1 |
DL: 300616/09 | Localização: BLX PF 82-94 MUR (80260709)
Comentários
Enviar um comentário