Já aqui escrevi sobre o meu processode dinamização de uma sessão de Comunidade de Leitores. No entanto, também me
parece útil elencar e explicar algumas características que considero úteis a um
dinamizador. Estas características não inatas a todas as pessoas,
mas na sua maioria são capacidades que se desenvolvem com empenho e vontade. Juntei-as
em pares, pois parece-me que algumas noções são indissociáveis e mais fáceis de
explicar na sua dinâmica.
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Gosto & Compromisso.
No ensaio “Este vício ainda impune”, Michel Crépu afirma que a leitura pode ser
“O descanso como forma de trabalho? Trabalho como forma de descanso.” Dinamizar
uma comunidade de leitores deve ser um trabalho feito com gosto, porque esse
prazer que, à partida, devermos retirar da leitura deve transparecer e é um dos
elementos agregadores de um grupo de leitores e que o vai transformar nessa
comunidade ideal. Mas haverá momentos da nossa vida pessoal e profissional em
que a preparação das sessões será complexa. Aí, tem de entrar em cena o
compromisso. É ele que nos vai fazer ler livros que afinal não serão tão
aliciantes como julgávamos ou nos fará encarar um livro quando o nosso ânimo
simplesmente não está para lá virado. É o que acontece em todas as relações. É fácil
dizer que é simples ler um livro por mês. Contabilisticamente sim. Mas a
leitura além de um gosto por vezes é um grande investimento sentimental e
temporal, para o qual devemos estar preparados. E nem sempre a nossa vida, nas
suas diferentes facetas, se coaduna com esta predisposição.
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Pesquisa & Síntese.
Não é obrigatório que um dinamizador seja especialista em, p. e., literatura,
que é o género habitualmente lido. Mas, como em qualquer área, devemos
preparar-nos o melhor possível. Não sabemos, pesquisamos. E, actualmente, o que
não falta são partilhas de informação na internet que podem ser óptimas
ferramentas de apoio. Depois, é claro, é necessário chegarmos as nossas
conclusões e às nossas sínteses. Sem qualquer receio de que estas não sejam
maioritárias ou correspondentes a tendências.
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Capacidade de expressão & Escuta Activa. Nas sessões, deparamo-nos com as mais variadas opiniões
e também com a incapacidade dos participantes de organizarem as suas opiniões e
impressões de forma inteligível. Cabe-nos, enquanto dinamizadores, não perder
essas participações igualmente válidas. Então, tem de entrar aqui o nosso papel
de mediador em que, primeiro, temos de saber ouvir “nas entrelinhas” e depois
ajudar a encontrar as palavras mais adequadas.
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Humor & Assertividade.
Duas ferramentas essenciais para dar a volta e pôr um fim a questões mais sensíveis.
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Autenticidade & Transparência.
Se por algum motivo não gostamos das obras que lemos ou até, nesse mês, não a
lemos. Não adianta fingir (a não ser que seja uma óptimo actor, e eu não sou). A
nossa experiência de leitura sendo única, muitas vezes não difere assim tanto
da dos outros leitores. Achamos a histórias e as estratégias do autor
incoerentes. Ora aí está um tópico de debate. A leitura foi difícil. Porquê? Outro
tópico. Como é que se chegou a este autor pela primeira vez? Quais as nossas resistências
e as nossas preferências? Quais os contextos de leitura? São tudo questões que
podem ajudar a dinamizar a sessão. E quanto mais autênticos e transparentes
formos com as nossa opiniões e impressões, mais facilmente ganhamos a confiança
e o à vontade dos participantes.
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