Como a leitura influenciou a minha escrita

Sally Nixon
A minha prática de escrita teve início na adolescência, com qualquer coisa parecida com um diário. Cedo, a descrição do quotidiano per si me desinteressou. Mas a escrita, como forma de me organizar mentalmente e de me perceber, ficou como hábito enraizado. Ainda mais do que a leitura. Creio até que a leitura veio como forma de (me) saber escrever melhor.
Numa primeira fase, o resultado da escrita era privado. Só com o advento da internet e dos blogues é que a escrita se tornou pública e isso sempre influi o modo como escrevo. Sempre almejei uma escrita clara e acessível e, se possível, concisa. Algo que resultou também de uma curta, mas marcante, experiência redatorial.
Hoje, além do processo de organização mental, encontro na escrita o espaço para exprimir a minha (in)compreensão do mundo e uma forma de partilhar (o pouco ou o nada) que tenho aprendido. Além disso, aquilo que decido partilhar tem uma visibilidade acrescida. E a noção dessa visibilidade e eventual impacto trouxe outra noção de responsabilidade sobre o que opto por partilhar.
Essa responsabilidade passa pelo respeito pelas “fontes”. Não que me dedique a citações ou a reproduções apuradas das leituras que faço. Procuro, sem omitir a origem das minhas reflexões, fazer uma síntese pessoal e transmissível, reflectindo sobre diversos pontos de vista e, sempre que possível, contribuindo para uma conciliação. Embora na maioria das situações sinta, sobretudo, dúvida, dúvida, dúvida. Ou seja, exprimimo-nos à luz do que sabemos no momento e, quase sempre, a nossa perspectiva tem limitações.

Também sinto uma apreensão que há alguns anos não tinha. Sinto que alguns dos meus escritos são demasiado impulsivos e imponderados para partilhar e que não acrescentam nada a ninguém. Ou seja, o que escrevemos pode ser uma excelente ideia mas enquanto não atingir determinado grau de maturação é preferível ficar connosco. A seu tempo, se se justificar, há de ver a luz do dia. E esse dia também chega, porque também é certo que ganhei outra segurança e outra maturidade no modo como escrevo. E é com a tranquilidade do percurso feito até ao momento que vos deixo estas linhas de balanço de cerca de 13 anos de blogosfera e mais de 25 de divagações pessoais. 

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