Imagem de capa de Eléctrico 16, de Filomena Marona Beja. |
A minha experiência leva-me a constatar que qualquer
espaço que permita a reunião de um grupo de pessoa pode ser palco da realização
de uma Comunidade de leituores, mesmo que esse espaço, à partida, não tenha
nenhuma relação aparente com essa dinâmica. A verdade é que numa comunidade de
leitores o único denominador comum é o exercício da leitura e desafio da sua
partilha. Então, o espaço é um pormenor secundário e pode ser o que estiver disponível
a esse mesmo grupo.
Os espaços que mais facilmente associamos a esta prática
são os que têm o livro na sua génese: bibliotecas e livrarias. Mas ambos têm
missões e objectivos diferentes, que podem condicionar os moldes desta prática.
Numa livraria, para além que
qualquer móbil de difusão cultural, não podemos esquecer que é um negócio. Há
sempre um objectivo de retorno financeiro. Então, na sua prática de dinamização
de comunidades de leitores a rentabilização da “novidade” é sempre uma
prioridade. E é uma rentabilização tão válida como outra qualquer e é uma
ferramenta de divulgação utilizada por livrarias como Bertrand, Almedina e
Leya. Basta consultar as suas páginas intitucionais.
No entanto, a aquisição de “novidades” implica um
investimento financeiro que nem todos os leitores (e instituições) podem despender.
Mas esta situação é contornável e aí as bibliotecas
têm um papel preponderante, pois podem rentabilizar o acervo disponível. Isso poderá
implicar alguma criatividade no momento de lançar propostas de leitura e optar
por modelos de dinamização menos restritos à habitual leitura periódica única.
por outro lado, e não esquecendo que também somos avaliados quantitativamente, a
dinamização de comunidades permite uma redescoberta e uma nova vida de leituras
do acervo. E sem esquecer a missão inerente às bibliotecas de equidade ao
acesso à informação e cultura.
Mas estes não são, de longe, os únicos espaços passiveis
de acolher uma comunidade de leitores. Por exemplo, o Museu Ferreira de Castro dinamiza uma comunidade desde Maio de 2008
e que, de acordo com o seu responsável, já conheceu várias “gerações” de
participantes. E como os locais podem (e devem) influenciar as dinâmicas, este
tem como desafio anual a leitura de uma das obras do autor.
Se calhar, também não estranhamos que uma associação cultural dinamize uma
comunidade de leitores. Então, e se for uma associação de moradores ou o condomínio
do seu prédio? Parece inusitado, mas já pensou que esta pode ser a forma, por
exemplo, de colmatar a oferta cultural na sua área de residência. Ou até ser um
factor de coesão e partilha social. E quem diz uma associação, também pode
dizer a sala de assembleia da sua junta
de freguesia. E a sua empresa? Já
ponderou como a partilha de leituras pode ser um elemento da politica social da
sua empresa e uma forma de teambuilding a explorar?
Estes são apenas exemplos de locais que podem acolher uma
comunidade de leitores. Em jeito de conclusão, quero apenas frisar que, se
existir a vontade de encetar novos percursos e de partilhar leituras, não há
local impeditivo à sua realização. Aliás, até estou a ponderar propor à CP a dinamização de uma comunidade numa carruagem, nas minhas viagens de ou para o trabalho. Que acham?
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