Blade Runner 2049 (2017)

Há uns meses atrás, revi Perigo Eminente, título português para o filme Blade Runner original. Tinha na memória a mítica cena em que o vibrante olhar azul de Rutger Hauer se extingue, cumprindo-se, assim, a sua programação andrónica que possuía um prazo de validade.
Esta era uma versão futurista de um frankenstein biónico que procurar ultrapassar os horizontes (neste caso temporais) a que o seu criador o veta. Criador este que, como todos os demais, querem sempre que as suas criaturas cumpram os seus objectivos e nunca as aceitam como potencialmente iguais, já para não dizer superiores. Mas, tal como todas as criaturas, estas rebelam-se. Para as capturar e exterminar, entra em cena Deckard. Mas, ah a ironia, este acaba por se apaixonar por um modelo mais recente de Replicantes (nome aqui dado aos androides), que não possui o tal prazo de validade, e acabam por fugir, também eles, à perseguição.
O que nos traz a Blade Runner 2049…
E (spoiler alert!), afinal, dizem-nos que o próprio Deckard é um Replicante e a sua relação com Rachel possibilitou um tremendo avanço evolutivo, até ao momento, irreplicável. O que nos leva a uma nova perseguição, que, não sendo surpreendente, tem mais reviravoltas e elementos de despiste do filme original. Ou seja, em termos de enredo, embora possibilitasse reflexões profundas, o filme original tinha uma história linear e simples. O filme actual (que não é um remake, mas uma sequela) já apresenta estratégias narrativas mais complexas, embora estejamos todos já tão habituados às mesmas, cujo resultado não é exatamente nenhuma surpresa. É-nos dada toda a informação, apenas temos de ligar os pontos de forma diferente da que nos é primeiramente apresentada.
A maior dificuldade na ligação desses pontos não é a nível de coerência interna, mas sim de relacionamento com a nossa realidade. Ou seja, as questões ou a realidade explorada no filme original continua a estar mais próxima de nós, o que nos permite reflectir, mas não nos suscita dúvidas, digamos, “técnicas”. Já a actual proposta de enredo, mantem as mesmas possibilidades de reflexão, mas é muito mais distante do nosso estado actual de realidade, o que nos deixa mais dúvidas “técnicas” que aumentam a sensação de inverosimilhança. Dúvidas essas, claro, que não são respondidas, nem sequer apontados caminhos.
Em termos de estética e ambiência, há um excelente compromisso entre o original e a incontornável evolução tecnológica e possibilidades digitais actuais. E, aí, se possível, recomendo ver o filme no cinema (com ou sem outras opções mais avançadas).
Uma das sensações que transparece neste filme é a de sentida homenagem ao filme de 1982 e nesse sentido nenhuma das personagens é esquecida, seja através da sua recuperação, seja na replicação de momentos chave da história. E a chuva transforma-se em neve...

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