A
sequência de leituras deste trimestre da Comunidade de Leitores da Bilblioteca
da Penha de França, colocou-nos perante 3 autores – Mário Dionísio, Camilo José
Cela e Carlos de Oliveira -, que devido à ordem cronológica de nascimento, se
suporia terem obras com características similares. Ou pelo menos essa análise
poderia ou não ser uma conclusão a que chegássemos. No entanto, a obre
escolhida de Cela foi A Cruz de Santo André, datada de 1993, enquanto a de Dionísio
e a de Oliveira são da década de ‘940. Então, para mim, não foi fácil
estabelecer um paralelismo entre as três obras, uma vez que a de Cela fugia
muito às características do neorrealismo. Mas e se lesse uma obra datada
daquele período, encontrariam nela as mesmas características? Foi essa
curiosidade que me levou a este A Família de Pascual Duarte. Conclusão: sim, lá
está o neorrealismo.
Aqui,
encontramos as (mesmas) personagens presas em teias socio-económicas de que não
conseguem escapar, vítimas de um campo que não gera rendimento suficiente para
todos os que dele dependem, sem educação suficiente (e vontade de a adquirir)
que permita outras opções, de uma visão da cidade que ainda impõe uma conduta
mais miserável e sem qualquer sistema de apoio (familiar ou não), com noções de
honra e de conduta que ainda exigem o reparo pelo sangue ou pela força, de
cuidados de saúde inexistentes ou miseráveis.
A maior
diferença neste Pascual Duarte é a sua noção de que nada na história da sua
família foi algo ainda que remotamente feliz e digna de futuro. Uma família cujas
crianças teimam em não medrar levando consigo qualquer possibilidade de futuro.
O protagonista encontra então na prisão e no processo de escrita do seu relato
de vida o momento para reflectir sobre as suas acções, as suas escolhas, as
suas emoções, mas que ainda assim não consegue inverter, pois a saída da prisão
– o único sítio que lhe permitiu descobrir-se –de que, ironicamente, não deseja
sair, dá –se para o mesmo contexto, logo induzindo-o à mesma precaridade. A
estada na prisão, onde começa ou a germinar a consciência pessoal, não foi no
tempo suficiente para fazer materializar a transformação necessária ou possível.
Em termos
de comparação com a Cruz de Santo André, este é também um relato - na primeira pessoa
- de um desmoronamento (previsível), em que a figura da mulher assume um papel
preponderante, uma vez que é a sua capacidade de amar /ou não) que dita todo,
pois o que deveria ser uma fonte de vida, é apenas um prenúncio de morte.
Título Original: La família de Pascual
Duarte (1942) | Tradução: Jener Cristaldo | Editora: Difel | Local: São Paulo,
Brasil | Edição/Ano: 1986 | Págs.: 146 |
Capa: Ramon Sepulveda | DL: 113.148 | Localização: BLX PG 83-31-CEL (117177)
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