O que escrevemos não muda quem o lê, muda quem o escreve

Todos gostamos da ideia de que, quando decidimos partilhar os nossos escritos, poderemos influenciar ou mudar a opinião de alguém sobre um tema. Mas essa consequência é muito mais rara do que julgamos. Ainda assim, não devemos menosprezar essa raridade. Afinal, é especial.
O poder transformador da escrita não é exterior, é interior. Quem o pratica, ao delinear ideias, argumentos, palavras, vê-se confrontado com as suas limitações, incompreensões e preconceitos. Através da escrita (e da sua (re)leitura) conseguimos colocar-nos num lugar suficientemente distante para nos observarmos, como fariamos a outra pessoa. O que vemos nem sempre é apaziguador. É uma experiência extra-sensorial ou corpórea, que pode ser aterradora. Mas a vantagens de enfrentarmos os nossos terrores é a perspectiva de os ultrapassar.

Não sei quantificar todos os momentos em que me percebi diferente depois de escrever um texto. Mas consigo identificar alguns desses momentos cruciais. Gostaria de constactar que estes resultaram numa maior compreensão do outro, numa maior capacidade de aceitação e tolerância. Sim, quero pensar que sim... mas o certo é que me obrigaram a olhar para partes de mim que desconhecia e muitas delas tenho até pudor em admitir. Escrever transforma-me. Qual a abrangência ou impacto dessa transformação, só o futuro o dirá. O certo é que o futuro começa hoje...

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