“A
abelha foi apanhada pela chuva: vergastadas, impulsos, fios do
aguaceiro a enredá-la, golpes de vento a ferirem-lhe o voo. Deu com
as asas em terra e uma bátega mais forte espezinhou-a. Arrastou-se
no saibro, debateu-se ainda, mas a voragem acabou por levá-la com as
folhas mortas.” (p. 153)
há
livros e autores que, quando finalmente os conhecemos, nos
questionamos: porque é que perdi tanto tempo até descobrir esta
pequena maravilha? Em última análise, estivemos a preparar-nos para
conseguir apreender toda a sua grandeza, dentro da sua ínfima
singeleza.
Este
é o meu sentimento ao concluir esta leitura. Uma história que, de
tão simples, nos poderia suscitar indiferença. No entanto, o seu
leque de personagens variadas, mas todas reféns das tramas
impossibilitantes impostas por uma vida sem perspectivas ou
exterminadas pelos danos colaterais de acções terceiras. São todas
pequenas abelhas apanhadas na torrente da chuva, perante a qual não
têm qualquer hipótese de combate ou sobrevivência.
Silvestre
e a culpa destrutiva, Mª dos Pazeres mas sem paixão, Leopoldino
catalizador ausente, Abel temente e talvez pecador, Violante irmã
suspeita, Neto missionário a ser, claúdia mulher a não ser,
Jacinto sonhador podado, Clara amada fatal, velho oleiro cego
manipulado, Marcelo ordenado passivo. Colmeia que apenas pode aspirar à
sobrevivências aos dias.
Editora:
círculo de Leitores | Colecção: Obras completas | Local: Mem
Martins | Edição/Ano: Dez, 2000 | Impressão: Printer Portuguesa |
Págs.: 754 | Capa: Mário Caeiro | ISBN: 972-42-2411-2 | DL:
156874/00 | Localização: … (…)
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