Uma abelha na chuva, Carlos de Oliveira

A abelha foi apanhada pela chuva: vergastadas, impulsos, fios do aguaceiro a enredá-la, golpes de vento a ferirem-lhe o voo. Deu com as asas em terra e uma bátega mais forte espezinhou-a. Arrastou-se no saibro, debateu-se ainda, mas a voragem acabou por levá-la com as folhas mortas.” (p. 153)
há livros e autores que, quando finalmente os conhecemos, nos questionamos: porque é que perdi tanto tempo até descobrir esta pequena maravilha? Em última análise, estivemos a preparar-nos para conseguir apreender toda a sua grandeza, dentro da sua ínfima singeleza.
Este é o meu sentimento ao concluir esta leitura. Uma história que, de tão simples, nos poderia suscitar indiferença. No entanto, o seu leque de personagens variadas, mas todas reféns das tramas impossibilitantes impostas por uma vida sem perspectivas ou exterminadas pelos danos colaterais de acções terceiras. São todas pequenas abelhas apanhadas na torrente da chuva, perante a qual não têm qualquer hipótese de combate ou sobrevivência.
Silvestre e a culpa destrutiva, Mª dos Pazeres mas sem paixão, Leopoldino catalizador ausente, Abel temente e talvez pecador, Violante irmã suspeita, Neto missionário a ser, claúdia mulher a não ser, Jacinto sonhador podado, Clara amada fatal, velho oleiro cego manipulado, Marcelo ordenado passivo. Colmeia que apenas pode aspirar à sobrevivências aos dias.

Editora: círculo de Leitores | Colecção: Obras completas | Local: Mem Martins | Edição/Ano: Dez, 2000 | Impressão: Printer Portuguesa | Págs.: 754 | Capa: Mário Caeiro | ISBN: 972-42-2411-2 | DL: 156874/00 | Localização: … (…)

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