“Um
quarto fechado é sempre uma história por contar, enquanto não o
abrirem, cada um há-de ter a sua.” (p. 124)
O
hotel Avenida Palace é, à partida, o cenário de tantas histórias
quantos os seus quartos e os personagens que o percorrem, sejam
hóspedes, visitantes ou trabalhadores. Mas só podemos vislumbrar as
que se deixam ver no momento em que, por ventura, se entreabre a
porta à nossa passagem. Na verdade, encerram em si infinitudes de
vidas das quais nada jamais saberemos.
O
hotel é um microcosmos: “um mundo pequeno feito à imagem do outro
maior. Nós garantimos que a escala permaneça justa, sem nada
aumentar ou reduzir.” (p. 86). mas é também uma alegoria
possível para a literatura: “A literatura é a mais horrenda das
artes, porque é feita da mesma matéria com que falamos e nos
enganamos a nós e aos outros. … Lemos o que queremos ou precisamos
de ler, lemos como amamos e caímos.” (p. 94)); e para o labor da
escrita: “Não nos peçam para corrigir o que vai torto ou torcer o
que anda certo. … Somos artífices do detalhe e da memória, e não
nos peçam mais.” (p. 86)
Uma
leitura rápida e cativante, mas não necessariamente simples e
fácil, pois se reconhecemos alguns das referencias corporizadas por
algumas das personagens – como é o caso do Professor António de
oliveira (p. 13 e 14) -, há também a sensação de que outras
tantas nos escapam: “Como serão os homens sem luz?” (p. 15)
A
primeira sensação é de algum desconforto, pois não estou
habituada à leitura de narrativas tão pequenas e tenho sempre a
impressão de nunca permanecem. No entanto, e finda a leitura, alguns
das histórias mantêm-se e, apesar da aparente pequena dimensão, a
grandeza do livro reside na capacidade de reverberação das mesmas
em nós. Numa segunda análise, são – talvez fruto da formação
cientifica do autor - a rectidão da estrutura e o potencial –
entre os seis graus de separação e a teoria do gato de Schrödinger
– de histórias que nos cativam, porque no momento em que abrimos
aquelas portas, foram estas que se apresentaram. Mas poderiam ter
sido infinitamente outras.
Editora:
dom Quixote | Local: Alfrgide | Edição/Ano: 1ª, Maio 2015 |
Impressão: Multitipo AG | Págs.: 126 | Capa: Neusa Dias, sobre
imagem “Night in the city”, de Jack Vettriano |
ISBN: 978-20-5749-3 | DL: 390590/15 | Localização: BLX PF (…)
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