Gaivotas em Terra, David Mourão-Ferreira

"- Olha! olha! Gaivotas em terra ... é sinal de temporal, não é?
- Temporal! ... Pff... Aqui nunca chega a haver temporais!" (p.311)

Este livro tem como epigrafe o dito popular “Isto no fim de contas é uma aldeia...”, referindo-se à cidade de Lisboa. E se ainda hoje temos essa sensação, na década de ‘950 - e não só -, em a cidade era aglomeradora da migração oriunda do interior do país, ou seja uma extensão do mesmo, tal não era uma sensação, era um facto. Estas vagas migratórias vinham alimentadas por sonhos e ambições de uma vida melhor, longe da dureza e agruras do campo. Mas, chegados à metrópole, a realidade raras vezes era mais fácil, apenas diferente. Daí que os personagens desta(s) novela(s), de modos, por vezes insuspeitos, se interliguem, num relato pícaro de costumes em que homens e mulheres tentam, através de pequenos esquemas e algumas malandragens, escapar à engrenagem dos dias. São histórias de uma subtil observação da natureza humana e do seu relativo instinto de sobrevivência, pontuadas aqui e ali de um humor e ironia, que só um grande autor é capaz.
Esta foi uma sugestão de um dos participantes para a Comunidade de Leitores da Penha de França. Da minha parte, foi a primeira incursão no trabalho de DMF, de quem conhecia apenas alguns poemas dispersos. Uma vez mais, fico com a sensação de que ainda tenho tanto para conhecer da nossa literatura, tantas lacunas a preencher, que apenas me resta a consolação de que este será um objectivo de vida. Não sei quando voltarei à escrita de DMF, mas o certo é que voltarei.
Editora: Editores Associados | Colecção: Unibolso Duplo | Local: Lisboa | Impressão: Gris Impressores | Págs.: 312 | Capa: Luiz Duran | Ilustrações: | Localização: BLX DR5022495 (0312702)

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