É possível
quantificar a felicidade? Partindo do pressuposto que sim, David Machado
oferece-nos o périplo de um personagem em busca e em constante confronto
daquilo que considera o seu plano para atingir a felicidade. É uma viagem atribulada,
como convém a qualquer putativo herói, e vivida entre a solidão e uma galeria
de personagens, todas à procura das suas próprias respostas ou das respostas
possíveis.
Ora, esta
leitura deixou-me com mixed feelings. Porquê? Primeiro, porque havendo várias
ideias interessantes, estas atropelam-se umas às outras e acabem por não ser exploradas
de modo a preencher as nossas expectativas leitoras. A ideia de – em plena
crise mundial – se explorar o conceito de felicidade é aliciante. Mas as
reflexões, sempre à mercê de uma visão unilateral do protagonista, ficam aquém
do que poderiam ser. E sendo explorada unicamente a visão do protagonista,
Daniel, há consequentemente visões que seriam certamente muito interessante e se
perdem, o que me deixou uma sensação de insuficiência. Há tanto que eu queria
saber sobre outras personagens, como Xavier (o que talvez desse para todo um
romance). Então e as personagens femininas, Marta e Clara? Estas personagens
são completamente passadas ao lado e teriam tanto para nos dizer. Ou, pelo
menos eu, gostaria tanto de as ouvir. São duas super-mulheres que além de ter
de lidar com a mesma crise que os seus maridos, ainda têm de lidar com a sua
incapacidade para lidar com verdadeira batalha de aguentar o forte familiar. São
duas penélopes a gerir a ausência dos seus ulisses.
Mas, helas,
ulisses parte porque está apenas a ser o que se julga esperar de um homem. E esta
é uma história de boys being boys. Daniel insiste no mesmo plano, mesmo quando
todos percebemos que o plano já não serve as circunstâncias. Almodôvar, a quem
toda a narrativa se dirige, numa espécie de carta ao pai ausente, escolhe o
exilio voluntário. E Xavier, bem, esse pelo menos sempre se sentiu desfasado do
mundo. Mas também é o único que verdadeiramente tentar ultrapassar os seus
limites.
Este livro foi
adaptado ao cinema e embora ainda não tenha visto o filme acredito que resulte.
Porque toda a narrativa é bastante visual, ritmada e cheia de pormenores de
enredo. Nesse aspecto, óptimo. No entanto, falta-me a profundidade de análise
das personagens, o que, exatamente considerando o tema abordado, faz tanta,
tanta falta.
Editora: D. Quixote | Colecção: | Local: Alfragide |
Edição/Ano: 1, Ago 2013 | Impressão: Guide AG, Lda. | Págs.: 2 | ISBN: 978-972-20-5276-4
| DL: 361182/13 | Localização: … (…)
Já li este livro e gostei.
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