para João Aguardela, Luís Varatojo e Mitó, a Diva
Pássaros tardios sacodem o telhado.
Consulto o relógio
(se não me despacho
falho o autocarro).
A rádio toca lá dentro música barata,
ninguém o desliga, porém,
e deixamos poluir os ouvidos
com anglo-saxónicos acentos
saídos de parolas, provincianas,
extasiadas gargantas portuguesas
(tigres lendários com que Blake
nem sonhava).
No muro de um pátio um gato,
e nas unhas do gato um resto de peixe
roubado a uma cozinha mal guardada,
onde o almoço cozia,
acessível pelos ramos do limoeiro
que a namorava.
Cozinha de onde me chega, vagarosa,
antiga canção
na voz de mulher idosa,
com todo um país a morrer
sem difusão radiofónica,
tempo de antena,
ou sequer
choro de violoncelos.
Carlos Paredes
só precisou de uma guitarra.
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Bordallo Pinheiro |
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