O Homem Domesticado, Nuno Gomes Garcia


Uma das mais importantes funções da literatura é a de nos induzir à reflexão, não só sobre o passado e o presente que temos, mas, sobretudo, para os futuros que queremos. E é um possível futuro, o que nos apresenta NGG neste O Homem Domesticado. Um futuro que, infelizmente não nos é desconhecido, porque pertence ao nosso passado e ao presente em diversas áreas do globo. A diferença está… está… no extremismo com que subjugamos um grupo ou um género ao poder instituído, mas sempre artificial, de outro.
Clarifiquemos: num futuro impreciso, a sociedade – a nível mundial - é dominada por mulheres, que ocupam todos os lugares sociais, e aos homens, posse destas, está conferido apenas o papel doméstico e reprodutivo, enquanto dadores de material genético. Lembra algo? Pois… O autor, sem nos oferecer ou defender nenhuma tese, faz-nos, no entanto, reflectir sobre diversos aspectos da nossa organização social e, como já referi, do tipo de sociedade que queremos para o futuro.
Através de uma história bem engendrada e meticulosamente articulada, fazemos uma viagem por noções como: construção social dos papeis de género; liberdade individual versus segurança global; extremismos ideológicos; direitos e deveres; poder e submissão; individuo e sociedade. Servida com ironia q.b., afinal tem como cenário uma frança em que o novo lema social é Sécurité, Uniformité, Sororité, oscila entre a perspectiva de um narrador completamente neutro e a de um homem domesticado, a quem, por momentos, é dada a capacidade de voz e de um vislumbre para além do seu quotidiano.
Esta não é uma utopia feminina, é uma distopia humana, como são todas em que não existe igualdade e aceitação e em que subjuga seja quem for, seja de que sexo for. entre sorrisos causados pelas identificação de diversas referências, fica-nos também a tristeza de perceber o pouco evoluídos somos enquanto espécie e que provavelmente assim continuemos. porque não basta mudar os intérpretes, há que mudar a história, para que o futuro possa ser o mais parecido possível daquilo que almejamos.

Editora: Casa das Letras | Local: Alfragide | Edição/Ano: 1ª, Maio de 2017 | Impressão: Multitipo, AG Lda. | Págs.: 230 | Capa: Rui Garrido | ISBN: 978-989-741-721-4 | DL: 423981/17 | Localização: BLX PF 82P-31/GAR (80397804)

Comentários