Uma das mais
importantes funções da literatura é a de nos induzir à reflexão, não só sobre
o passado e o presente que temos, mas, sobretudo, para os futuros que queremos.
E é um possível futuro, o que nos apresenta NGG neste O Homem Domesticado. Um
futuro que, infelizmente não nos é desconhecido, porque pertence ao nosso
passado e ao presente em diversas áreas do globo. A diferença está… está… no
extremismo com que subjugamos um grupo ou um género ao poder instituído, mas
sempre artificial, de outro.
Clarifiquemos: num
futuro impreciso, a sociedade – a nível mundial - é dominada por mulheres, que
ocupam todos os lugares sociais, e aos homens, posse destas, está conferido
apenas o papel doméstico e reprodutivo, enquanto dadores de material genético.
Lembra algo? Pois… O autor, sem nos oferecer ou defender nenhuma tese, faz-nos,
no entanto, reflectir sobre diversos aspectos da nossa organização social e,
como já referi, do tipo de sociedade que queremos para o futuro.
Através de uma
história bem engendrada e meticulosamente articulada, fazemos uma viagem por
noções como: construção social dos papeis de género; liberdade individual versus
segurança global; extremismos ideológicos; direitos e deveres; poder e
submissão; individuo e sociedade. Servida com ironia q.b., afinal tem como
cenário uma frança em que o novo lema social é Sécurité, Uniformité, Sororité, oscila
entre a perspectiva de um narrador completamente neutro e a de um homem
domesticado, a quem, por momentos, é dada a capacidade de voz e de um vislumbre
para além do seu quotidiano.
Esta não é uma
utopia feminina, é uma distopia humana, como são todas em que não existe
igualdade e aceitação e em que subjuga seja quem for, seja de que sexo for.
entre sorrisos causados pelas identificação de diversas referências, fica-nos
também a tristeza de perceber o pouco evoluídos somos enquanto espécie e que
provavelmente assim continuemos. porque não basta mudar os intérpretes, há que
mudar a história, para que o futuro possa ser o mais parecido possível daquilo
que almejamos.
Editora: Casa das Letras | Local:
Alfragide | Edição/Ano: 1ª, Maio de 2017 | Impressão: Multitipo, AG Lda. |
Págs.: 230 | Capa: Rui Garrido | ISBN: 978-989-741-721-4 | DL: 423981/17 |
Localização: BLX PF 82P-31/GAR (80397804)
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