Bibliotecários: entre a tudologia e a nadologia


O nosso dia a dia oscila entre tantas solicitações que não é de admirar que por vezes pareçamos todos um bocado apalermados. Pelo menos é assim que eu me sinto em diversos (demasiados) momentos. Estas solicitações são tão diversas em temas e áreas e obedecendo a lógicas pessoais dos utilizadores que por muito que tentemos não conseguimos compreender. O resultado é muitas vezes a sensação de não percebermos nada de nada. Depois, lá há uns dias em que sentimos que acertamos.
Ora vejamos, no atendimento do serviço clássico lá temos o também clássico “ando há procura de um livro mas não sei o nome nem o autor.” Qual é a vossa resposta para isto, sem recorrer a leituras de mente e outras actividades paranormais? E o eu como é a capa, tem árvores? E o que me recomendo do autor x sobre a cena y e o período 321. Mas não é bem isso que querem, querem mesmo é um livro que diga tudo.
Depois, na área da internet há sempre os habituais utilizadores que nada sabem, mas sabem que não é assim, logo desconfia de tudo o que possamos dizer e ainda nos classifica de ignorantes. Além dos que esperam que saibamos utilizar todos os sites que necessitam e como recuperar o endereço de mais e as passwords que nunca apontaram e já não se lembram. Além de que a internet não é uma coisa assim muito bem feita porque não nos dá as respostas que queremos e como queremos.
Já quando dinamizamos actividades, o ideal é que consigamos abranger todos os públicos, ou seja dos 0 aos 100. Só que preparar actividades para públicos diversos implica preparação e isso é algo que muitos não conseguem perceber. Porque preparar dá trabalho e consome tempo. Por exemplo, se calhar numa hora eu consigo ler 3 ou 4 livros infantis. Mas ler um romance de cerca de 200 páginas demora uma média de 10h, o que significa que poderá demorar dias. E não, em bibliotecas, não nos sentamos dias inteiros a ler em silêncio. Aliás, nem sei bem o que é conseguir ler na biblioteca. E agora imaginem o que é por vezes dinamizar 2 ou 3 actividades por dias para públicos com exigências completamente diferentes.
E se, de repente, alguém nos faz uma pergunta, que até parece básica, na esperança de que, num laivo de inteligência sejamos tudolugos, e nós bloqueamos, não se admire. É que fomos acometidos por um momento de nadologia.

Comentários