Sempre vivemos no castelo, Shirley Jackson


Este livro foi-me emprestado no final do ano passado por um participante da Comunidade de Leitores e tem estado em stand by até ao momento. Não fazia a mínima ideia do que esperar deste título e autora completamente desconhecidos para mim. Ao percorrer a capa, a palavra gótico surpreendeu-me, mas deixou-me apreensiva. Desde a faculdade que o gótico, como estilo, não faz parte do meu percurso de leituras e, como percebem, não faz exactamente o meu gosto. no entanto, esta leitura foi uma grata surpresa.
É uma história de subtilezas em que o que nos é mostrado à primeira vista  é apenas uma aparência do que as personagens nos vão gradualmente apresentando ou deixando entrever. Merricat e Connie são duas irmãs que cuidam do tio Julian, um idoso preso a uma cadeira de rodas, e que vivem sós na velha casa de família. Há 6 anos que Merricat é a única que sai fora do terreno adjacente à casa para se dirigir 2 vezes por semana às compras na aldeia, onde é sempre olhada de soslaio e vítima de comentários depreciativos. O que aconteceu há 6 anos que ditou a reclusão desta família? Vem-se a saber que morreram envenenados com arsénico e Connie, apesar de ilibada pela justiça, continua a ser vista como culpada pelos habitantes da aldeia.
Não obstante a adversidade, a família vive numa harmonia que volta a ser posta em causa pela chegada de um primo há muito arredado do contacto e que tem como consequência a destruição parcial da casa, a morte do tio e a reclusão total das irmãs. E mais algumas revelações sobre a dinâmica familiar.
Toda a ambiência do livro me fazia relembrar o filme Os Outro, de Alejandro Amenebar. No entanto, esta não é uma história de fantasmas. Não ainda. Mas é o relato de como nascem as histórias de folclore que se perpetuam e servem para assustar as crianças durante gerações. É uma história sobre incompreensão do outro (palavra repetida inúmeras vezes), de como o amor entre irmãs se pode tecer de total abnegação e também de impossibilidade de partilha, de como a irracionalidade do grupo vence a humanidade. É uma straight story, mas que nada tem de simples ou simplista e cuja linearidade é colocada em causa pelo pouco e pela estranheza do que sabemos sobre as personagens.
Título Original: We have always lived in the castle | Tradução: Mª João Freire de andrade | Revisão: Mª Aida Moira | Editora: Cavalo de Ferro | Colecção: | Local: LX | Edição/Ano: 1ª, abr 2010  | Impressão: Grafiche del Liri | Págs.: 2017 | Capa: Razzmatazz Design | Ilustrações: | ISBN: 978-989-623-119-4 | Localização: Emp RA

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