Adelaide, Gobineau

Esta semana deu-me para isto: ler histórias que contêm o meu nome no título. É uma parvoíce como outra qualquer, mas antes isto que outra coisa pior, como diria a minha mãe!
Se as primeiras histórias eram ternurentas e positivas, direccionadas a um público infantil e juvenil, o mesmo já não se pode dizer deste conto de Gobineau, escrito em 1859, no Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro? Quem foi este Gobineau que escreveu no Brasil? Nunca tinha ouvido falar neste senhor e este registo no final do conto chamou a minha atenção. Além de diplomata, daí a passagem pelo Brasil, Gobineau ficou para a história pelo seu Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas(1855), no qual defende, segundo a Wikipedia, que a mistura de raças era inevitável e levaria a raça humana a graus sempre maiores de degenerescência física e intelectual. Talvez por isso, o senhor não seja já muito popular.
Mas voltemos a Adelaide. Quem é esta Adelaide? É uma jovem “Detestavelmente educada, completamente abandonada desde a infância, nunca tendo encontrado na mãe mais do que uma indiferença glacial…” que toma como objectivo tornar a vida da mãe o inferno possível. Para tal, resolve seduzir o jovem padrasto que, claro, se deixa enredar e nunca consegue demarcar-se dela. Como aliás, nunca o conseguiu fazer com a mãe, que o seduziu ainda era uma senhora casada em primeiras núpcias com o pai de Adelaide, cuja descrição é igualmente pouco abonatória. Aliás, nenhuma destas personagens tem uma descrição abonatória e pode-se até concluir que, no fundo, é um exemplo do adágio popular: ao menos só se estraga uma família.
O enredo recorda-me Sade, e a única é diferença é que embora nos seja claramente dita da sua existência, não há qualquer descrição das relações íntimas. Mas o que vale mesmo a pena é a descrição muito desempoeirada das personagens – na qual todos são apresentados como fracos ou fúteis ou desprovidos que valores morais intrínsecos - e o tom coloquial utilizado pelo narrador, um qualquer aristocrático que narra o caso num encontro social.
Esta leitura foi uma divertida surpresa. Este pequeno volume contem ainda a novela “A menina Irnois”, mas não a li.
Tradução: Mª Célia Coutinho | Editora: Estúdios Cor | Colecção: Mocho | Local: LX | Edição/Ano: Jul 1972  | Impressão: Tipografia António Coelho Dias | Págs.: (48) 159 | Localização: Dr5061673 (0921460)

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