Na
sequência da leitura de Os
Malaquias, que muito apreciei, percebi que só há mais uma
edição portuguesa de um livro desta autora. Apesar desta ter
diversos livros publicados no Brasil, e de ter ganho o Prémio
Saramago em 2011, isso não significou grande adesão do público
nacional a esta autora, da qual é possível aceder somente a mais
este As Miniaturas. Porquê esta indiferença e este desconhecimento,
aliás generalizado, dos novos autores brasileiros? Não tenho uma
explicação cabal, e este será igualmente tema de conversa na
sessão de 19 de Dezembro da comunidade de Leitores da Biblioteca da
Penha de França.
As
miniaturas. O que são? Como o título indica, são reproduções em
tamanho reduzido de objectos e seres da suposta realidade quotidiana.
Nesta obra, são utilizados por oneiros, indutores de sonhos, que,
tal como se um serviço público estatal, prestam serviço no Edifício Midoro Filho, no centro de uma grande urbe. Há regras muito
explicitas e estritas de atendimento e acompanhamento de sonhantes, até que um dia um dos oneiros percebe uma falha no sistema. Ao invés
de a denunciar, tenta explorar a falha e acaba por provocar um distúrbio no funcionamento de todo o Edifício e, inclusive, nos
sonhantes.
Sem
desvendar, muitos pormenores, este enredo onírico é consentâneo com
o estilo que ADF já nos brindou n’Os Malaquias. Uma espécie de
realismo mágico ou - como lhe chama a Márcia do Planeta Márcia
- “uma irrealidade estranhamente verosímil.”
a autora coloca-nos sempre em dois planos, o plano do quotidiano de
uma família de mãe e filho, suas aspirações para ambos e
mecanismos de lidar com a realidade, e o plano dos seus sonhos, onde,
por ventura, há mais cruzamentos do que seria desejável.
Não
creio que esta narrativa esteja ao mesmo nível de Os Malaquias. No
entanto, este jogo entre o que é realidade e o que é sonho é bem
conseguido pela autora, mesmo quando a intenção é de serem
indistintos. Não me foi possível passar por esta leitura sem tecer
algumas comparações com O Palácio dos sonhos, de Ismael Kadaré,
embora
este tenha uma construção com uma intenção politica e de defesa
das liberdades intimas do individuo.
Editora:
Porto Editora | Colecção: | Local: Porto | Edição/Ano: 1ª, jul
2014 | Impressão: Bloco Gráfico, Lda. | Págs.: 156 | Capa: Alex
Gozblau | ISBN: 978-972-0-04665-9 | DL: 374407/14 |
Localização: BLX Itinerantes 82P(81)-31/DEL (80327470)
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