A resistência, Julián Fuks

Graças ao Prémio Literário José Saramago, tornaram-se conhecidos dos leitores nacionais três autores brasileiros, a saber: Adriana Lisboa, Andrea del Fuego e Julián Fuks, este último com a particularidade de ter origem argentina. Origem essa que serve de base a esta auto-ficção, em que explora temas como a adopção, o exílio e a busca adulta pela compreensão e percepção do impacto de um passado familiar.
Este é um livro de subtilezas, servido por capítulos pequenos compostos por uma linguagem límpida, o que não o torna um livro exatamente fácil. Isto porque o autor estabelece um jogo constante entre a sua história (será mesmo?) e o leitor, que, mesmo não sendo novato nestas lides, quer acreditar na verosimilhança e no seu poder narrativo, mesmo que desconfie de toda a veracidade. É deste modo que o autor nos oferece uma história em que reflete o impacto da adopção do/de um irmão e o modo como a/uma família o acolhe, integra , cuida , lida e se mostra incapaz de gerir a sua forma visceral de duvidar do seu lugar no mundo e até nessa família.
Como pano de fundo, há o crescendo da ditadura e das perseguições políticas na Argentina, o drama das inúmeras crianças raptadas pelo regime e o drama da avós da Praça de maio que buscam a continuidade do seu próprio sangue, pois nada mais têm para legar a este espaço que é o mundo. Há o exílio como forma de resistência, pois, afinal, que resistência ao poder pode haver na morte, senão a vitória desse mesmo poder?
É uma leitura que vale a pena, seja pelos temas, seja pela estrutura, seja pelo domínio e subtileza da linguagem.
Revisão: … | Editora: Cia das Letras | Colecção: | Local: Loulé | Edição/Ano: 1ª, 2016 | Impressão: … | Págs.: 212 | Capa: … | Ilustrações: | ISBN: 978-989665-051-3 | DL: … | Localização: BLX Marv 82P(81)-31/FUK (…)

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