A Madona, Natália Correia


Natália Correia (NC) é um nome sobejamente conhecido nas nossas letras, mas quantos de nós realmente leram algo desta autora feroz e sem papas na língua. Para a maioria, creio que a imagem que mais temos presente é a de declamadora e divulgadora de outros autores. Quanto ao seu trabalho, talvez essa imagem de combate e confronto às normas nos tenha, pelo contrário, afastado enquanto leitores. Talvez tenha lido alguns poemas na escola, mas sinceramente não tenho qualquer memória concreta. Posto isto, A Madona foi a minha primeira experiência de leitura desta autora. E até ao momento, não consigo perceber se gostei ou não, embora não me tenha sido indiferente, o que, por si só, já tem valor.
Em termos gerais, a história é relativamente simples. Branca, filha única e jovem herdeira de uma certa aristocracia feudal, é incentivada pela mãe a sair de Briandos, a estudar e a conhecer mundo. Ruma a Paris onde conhece Miguel, putativo escritor, com quem partilhará a noite e cuja relação de excessos os leva a testar os limites da mesma. Após um último teste, retorna a Briandos. Aí, reencontra Manuel e constata que o seu papel de mulher já não se adequa à pequena vila. Mas a história não é apenas isto e vale sobre tudo por alguns episódios curiosos e dignos de ponderação, bem como diversas reflexões ferozes da autora e o modo como esta expõe determinadas convenções sociais, nomeadamente relativas ao papel da mulher e do que é, afinal, o amor. Por outro lado, o seu estilo ostensivamente erudito soa-me – quase sempre - muito artificial e fazia-me perder facilmente a concentração, o que nem sempre contribuiu para a melhor compreensão e aproveitamento da leitura.
Mas ler este livro hoje, que parece muito datado, devia ser bem diferente de lê-lo na altura do seu lançamento. E tentando imaginar o que seria a estrutura mental da época, a autora era com certeza uma constante pedrada e o modo quase predatório do seu discurso não devia granjear muitos seguidores, pois deveriam ser poucos os que conseguiriam ver além dessa imagem feroz. Mas esta é a minha impressão. Sendo esta uma leitura realizada no âmbito da Comunidade de Leitores da Biblioteca da Penha de França, estou muito curiosa para perceber as impressões e opiniões dos demais participantes.
+ Sonetos Românticos | Revisão: Marta Cancela | Editora: Dom Quixote/Casa das letra | Colecção: Frente e verso | Local: LX | Edição/Ano: Fev 2011 | Impressão: Litografia Rosés | Págs.: 171 +50 | Capa: rui Garrido | ISBN: … | DL: 321327/10 | Localização: BLX NC 82P-i/COR (80309652)

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