Regressei
a este livro e deparei-me com a quase ausência de memória sobre o mesmo. Recordava
apenas uma ambiência espectral originada pela morte de um ente querido. Pelo menos
não é uma falsa memória.
Esta
é uma história pautada por diversos fantasmas psicológicos. O mais óbvio, o da
morte de um elemento do casal num casamento longo e sem filhos. E esta não
continuidade biológica sempre presente é outro reflexo da finitude humana. Um outro
fantasma social sempre complexo de gerir. Outro é o da loucura ou demência através
da personagem do irmão do protagonista. Alguém fisicamente presente, mas cuja
mente se evola para um espectro passado. E também a sua situação familiar é um
fantasma, o fantasma de que o sangue – por si só – não é garante de nada, nem
de afecto, nem de continuidade. Por último, ou o primeiro fantasma de todos, o
espectro hamletiano da figura paterna. Alguém cuja omnipresença na vida dos
filhos é exactamente a génese da finitude desta família. O fim… a casa quieta…
Após
a leitura, no verão passado, de Pianista de Hotel, este livro fica um pouco
aquém, embora isso não faça dele um mau livro. É o livro de um autor em construção,
em que identifica o estilo do autor – a sensibilidade, a prosa poética, a
linguagem de duplo sentido, o tempo, os temas – mas em que ainda há palavras a
mais (na idade dos porquês). Um livro a ler, sem sombra de dúvida.
Revisão: Clara Boléo | Editora: Dom
Quixote | Colecção: | Local: LX | Edição/Ano: 3ª, Jul 2005 | Impressão: Guide
AG263 | Págs.: … | Capa: Atelier Henrique Cayatte | Ilustrações: | ISBN: 972-20-2857-x
| DL: 230254/05 | Localização: BLX BECCE 82P-31/CAR (80379733)
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