Esta foi uma das leituras mais empolgantes dos últimos
tempos, tanto que – obrigada a uma pausa – estava deserta para a retomar. Então
o que é que me empolgou?
Primeiro, o prazer de reencontrar uma – já tão rara - straight
story, em que acompanhamos um ano na vida de uma jovem na Barcelona de inícios de’40.
Esta jovem estudante universitária é acolhida pela família materna que aí
reside, mas que de família – no sentido afectivo – nada tem. São todos do mais
disfuncional que existe e cada um deles nos intriga de modo diferente: a avó
carinhosa mas que criou uns filhos monstros, os irmãos em lados opostos da
guerra e da capacidade artística, a angustiante Angustias, a inglória glória, a
criada que come melhor do que os supostos patrões, salvando-se apenas o cão
Trueno e o pequeno bebé, cuja vida está sempre em perigo de saúde, e que se
desconhece sequer o nome. São um grupo de pessoas ligadas por sangue em rota de
colisão e implosão, demonstrativa do severo impacto da decadência e miséria nas
dinâmicas pessoais. Uma dinâmica opressiva, enraivecida e vingativa que nos trespassa
também enquanto leitores e à qual não conseguimos ser indiferentes.
Este é um romance de formação. É servido por uma
escrita límpida, com imagens muito bem conseguidas de imensas matizes da cidade
(quer dos seus postais, quer dos seus locais desaconselháveis), dos quais se
destacam o efeito do tempo climatéricos, das estações e dos ciclos do dia. E
apresenta-nos uma autora com uma maturidade invejável para os seus vinte e
poucos anos na altura.
Título Original: Nada | Tradução (do
castelhano): Sofia castro Rodrigues & Virgílio Tenreiro Viseu | Revisão: Mª
Aida Moura | Editora: Cavalo de Ferro | Local: LX | Edição/Ano: 2ª, Jun 2014 |
Impressão: Tip. Lousanense, Lda. | Págs.: 252 | ISBN: 978-972-8791-90-02-
| DL: 376702/14 | Localização: BLX Mar 82-31/LAF (80330893)
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