Esta não é a minha primeira incursão pela
escrita deste conceituado e idolatrado autor que serviu de inspiração a um
movimento de contra cultura na América do pós-Segunda Grande Guerra,
tornando-se “livro de cabeceira” de alguns dos seus mais sintomáticos
psicopatas, como só aquele país parece produzir, ou pelo menos rentabilizar. Este
era um dos motivos que me suscitava curiosidade, perceber o porquê desta
influência, mas que até ao momento não se tinha concretizado. O facto deste ano
se assinalar o centenário de aniversário do autor deu-me o mote para incluir
este livro nas sugestões de leitura da Comunidade de Leitores da Biblioteca da
Penha de França, onde, de Setembro a Dezembro deste ano, nos vamos dedicar
exactamente aos centenários de nascimento (a saber, de Jorge de Sena, Sophia e
Fernando Namora).
Esta não me foi uma leitura fácil de aderir. Ao
acompanhar o fim-de-semana alucinado do jovem Holden Caulfield de 17 anos antes
de regressar a casa após ter sido expulso do colégio interno, só me apetecia dar
estalos à personagem. Tal como a outro qualquer adolescente, ou pelo menos, à
maioria. À primeira vista, esta é uma personagem inconsciente, inconstante,
indecisa, imatura e outros in—que nos desgastam. Mas… e nas histórias que nos
marcam há sempre um mas que nos faz vacilar. Mas… aos poucos e apesar de todas
as indefinições da idade, percebemos que este jovem é muito mais do que
aparenta. É um jovem a quem exigem uma definição e a conformidade com um
determinado conjunto de regras e expectativas sociais, mas nas quais este não
se revê, condena e, consequentemente, apesar de toda a pressão, procura
encontrar, ainda que de forma atabalhoada, e demonstrada de modo intencionalmente
superficial, o seu próprio rumo. Ou seja, foi já no último terço do livro que
comecei a perceber o porquê do impacto deste livro junto de uma juventude à
procura de um novo sentido e de novos valores numa sociedade pós-guerra em que,
claramente, os antigos preceitos já não se adequam.
Penso que, para tirar melhor proveito do
mesmo, este é um daqueles livros para se ler na adolescência ou no inicio da
vida adulta. Embora também deva ser lido por adultos que lidam ou estão a acompanhar
adolescentes. Este livro à uma demonstração de que há mais na mente de um
adolescente do que conseguimos ou queremos perceber, tão instrumentalizados que
estamos para agir em conformidade com as regras e exigências – muitas vezes vãs
– da nossa sociedade. Este livro merece com certeza uma leitura atenta e lê-lo
é compreender porque é que, quase 75 anos após a sua primeira edição, continua
a vender – a nível mundial – 250 mil exemplares anualmente.
Título Original: The
Catcher in the Rye (1961) | Tradução: José Lima | Revisão: Carlos Pinheiro | Colecção:
Serpente emplumada | Editora: Quetzal | Local: LX | Edição/Ano: dez 2015 |
Impressão: Bloco Gráfico, Lda. | Págs.: 233 | Capa: Rui Rodrigues, Quetzal |
ISBN: 978-972-564-974-9 | DL: 332073/11 | Localização: BLX Mar 82-31/SAL
(80371869)
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