Vitória é mulher, mulata, bibliotecária, estrábica, lésbica.
São muitos dos “rótulos” que juntos contribuem para a consciência de uma
identidade nas franjas de uma maioria num país como Portugal. Mas, esses não
são necessariamente os traços identitários de Vitória com que ela mais se
debate e com os quais necessita de se pacificar. O âmago do seu conflito e falta
de rumo está nas suas raízes angolanas e para tal regressa ao país natal e
busca Rosa, a mãe guerrilheira que a abandonou aos cuidados dos avós paternos,
para nunca mais a procurar e continuar no seu ideário de luta. É com este
abandono ancestral que Vitória necessita confrontar-se. Porque “a dor do
abandono nunca sara. Aprende-se a conviver com ela. É uma cicatriz que nunca deixa
de dar comichão.” (p. 199) E é por ele
que espera, sabendo que este é o passo fulcral para encerrar colocar pedra
sobre o passado e então delinear concretamente o seu futuro, tal como o do país
que afinal escolhe como seu.
Esta foi uma leitura muito grata. Pelo tema da identidade, pelo
modo como nos apresenta uma tema com os olhos de quem está num limbo e do outro
lado de alguns padrões sociais. É uma escrita desempoeirada, por vezes seca
pela concisão, mas que nos oferece o grão de areia suficiente para reflectir e
impactar. A construção gradual da narrativa e a variedade de personagens espelham
um país e uma cidade em constante mutação em que o passado e o futuro se tentam
conjugar num presente em tudo é possível, desde reescrever esse mesmo passado e
até o futuro. Porque nada é certo e até o mais provável não é uma certeza.
“Espera Vitória. Espera só. És de um povo que ainda está à
espera, que espera. Sempre.”
Editora: Guerra &
Paz| Local: LX | Edição/Ano: Set., 2018 | Impressão: Lousanense | Págs.:
206 | Capa: Ilídio Vasco | ISBN: 978-989-702-423-8 | DL: 444955/18 |
Localização: BLX PF 82P-31/MON (80423546)
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