Luanda Lisboa Paraiso, Djaimilia Pereira de Almeida


Cheguei a esta leitura através do Clube de Leitura promovido pela Santa Casa da Misericórdia e dinamizado pelo Carlos Vaz Marques. Antes, li o Esse Cabelo e, então, entrei nesta leitura marcada pelo aquém que esse livro me tinha deixado. A minha primeira reacção é de que são livros muito distintos na forma. Se o tom ensaístico do primeiro anula qualquer noção de história com principio, meio e fim, aqui há esse fim condutor, o que, enquanto leitores, nos dá a reconfortante noção completude. Mesmo sendo-nos dado um final em aberto. Mas que história é esta?
É a história de Cartola e sua família. Uma família luandense, cuja condição física do filho (pé boto), obriga a uma divisão. Mãe e filha ficam, enquanto o filho Aquiles e o pai rumam a Lisboa para uma série de intervenções médicas. Estas revelam-se infrutíferas e obrigam os dois a permanecer indefinidamente em Lisboa. Isto de uma forma resumida e simples. Porque a autora dá-nos muito mais. Dá-nos o confronto entre a ideia de paraíso, no sentido de terra e possibilidades idealizadas, o confronto aniquilador com a realidade das pessoas a quem são usurpadas essas mesmas possibilidades. Dá-nos a noção de identidade em confronto com a tradição, o outro, o choque, a expectativa e não identificação com um território. Dá-nos um formato de tragédia clássica com a sua constatação, esmagamento perante as evidências e o consequente desaparecimento. Dá-nos o desencantamento das vidas vividas à margem do sonho e uma revolta, enquanto leitores, que se espera transformadora enquanto cidadãos.

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