Voar no quarto escuro, Márcia Balsas


O ser mulher é ser várias mulheres. 8, pelo menos. Tal como uma aranha, com as suas patas, o primeiro romance de Márcia Balsas oferece-nos uma teia tecida a oito vozes. Primeiro, parecem-nos histórias independentes, mas gradualmente o engenho da Márcia vai ligando, ponto a ponto, a trama, até que no final chegamos ao seu centro.
Eduarda. Alice. Beatriz. Ema. Adelaide. Celeste. Catarina. Célia. Mulheres a braços com a solidão, o desespero, a infelicidade pelas diversas expectativas goradas, seja no amor e nas relações, no seu conceito de família e maternidade, nas exigências sociais e profissionais. E a trama explora o precipício de vontades e cumprimentos entre o que querem estas mulheres e o que querem destas mulheres. Não é um livro alegre, embora a Márcia nos saiba dar a necessária quota parte de esperança. É um esmiuçar sobre as consequências indesejadas das nossas decisões, quando estas querem sobretudo cumprir o que se julga esperar de nós. E falo nós, porque é difícil não reconhecer nestas algumas das mulheres das nossas vidas e até muito de nós. É um retrato sem filtros para uma miríade de sentimentos e emoções cuja coexistência não é pacifica e é até de uma violência, física e psicológica, brutal e insustentável. Tal como o foi para diversas destas personagens, cujo fim, ainda assim, é a possibilidade de recomeço para as outras.
Este é o primeiro romance da Márcia Balsas, que tive o prazer de conhecer neste mundo das comunidades e clubes de leitura. Além de uma leitora voraz e atenta, a Márcia tem já diversos contos publicados e este romance parece-me o caminho inevitável nesse percurso. Que, estou certa, trará ainda outros frutos futuros.
Revisão: António Barrancos | Editora: Minotauro | Local: LX | Edição/Ano: Agosto 2019 | Impressão: Pentaedro, lda. | Págs.: 198 | Capa: Il. Ara Aragão | ISBN: 978-989-88-6664-6 | DL: 460007/19 | Localização: Pax

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