Esta é a minha primeira incursão, não na escrita, mas no
romance por JLP. Já tinha lido poesia, crónica e um ou outro conto. Mas à
ficção de longo curso ainda não tinha aderido. Não por falta de oportunidade e
vontade, mas por falta de atracção mesmo. Ou seja, começava a ler as primeiras
páginas, desfolhava mais umas quantas e… ficava por aí mesmo. E não vou dizer
que este livro me tenha conquistado imediatamente, não. Ou que me tenha
conquistado pela excelência, também. Conquistou-me sim pelo tom de sincera e
sentida homenagem a um autor admirado, José Saramago.
JLP apresenta-nos, numa primeira linha, a história de José,
jovem autor em crise de criação do seu segundo romance. Entre o vício do jogo,
que põe em causa a estabilidade de uma vida suportada financeiramente pelo pai
ausente, este é desafiado a escrever a biografia de Saramago. Uma biografia
ficcionada. Ou o romance que o autor nos apresenta sob o titulo Autobiografia.
Este é uma revisitação de muitos dos temas de eleição de
Saramago e uma visita dialogada com diversos dos seus livros, nomeadamente
Todos os Nomes, O Ano da morte de Ricardo Reis, Manual de Pintura e Caligrafia,
Ensaio sobre a Cegueira e, o talvez incontornável, Memorial do Convento. Este diálogo
assume diversas formas, desde o período de um ano que medeia a conclusão de
Todos os nomes e a atribuição do Nobel, em 1998; passando pela apropriação de
diversas personagens, às quais JLP dá um upgrade geracional; bem como pela
escolha de situações e provações para os seus personagens. Vemos assim abordado
o inusitado como ponto de partida para a reflexão social, sobretudo através da
desterritorialização provocada pelas migrações, a inquietação existencial como reflexão
sobre a condição humana), e o também incontornável jogo em que se procura
testar os limites entre ficção e realidade, o processo criativo e equivoco
limite entre as figuras do autor e do narrador.
Se
gostei do livro? Sim. Se acho que chega à mestria do homenageado? Não. Se é um
bom presságio para futuros romances? Sim. Se me vai levar a pegar num romance
anterior? Muito provavelmente.
Revisão: Diogo Morais Barbosa | Editora: Quetzal| Colecção:
língua comum | Edição: 1ª, jul 2019| Local: LX | Impressão: Bloco Gráfico|
Págs.: 300 | Capa: Rui Rodrigues | ISBN: 978-989-722-459-1| D.L.: 456356/19
|Localização: BLX BECCE 82P-31/PEI (80424792)
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