Ernestina, J. Rentes de Carvalho


Há muito que andava para me dedicar à leitura de Rentes de Carvalho e perceber o que a torna apelativa, quer no estrangeiro, onde primeiro granjeou uma horda de fãs, e em Portugal.
Gostei muito desta leitura, por diversos motivos, sendo que o equilibro resultante dos mesmos é em si mesmo um dos motivos. Através de uma autobiografia ficcionada, o autor revisita a sua infância e juventude até ao momento em que visita pela última vez a terra transmontana de origem da família. Essa revisitação resulta numa história em que o autor explora as fronteiras entre realidade e ficção; o processo de construção da memória; o retrato burilado da sociedade das primeiras décadas do século passado, a evolução das grandes cidades e a dureza da vida rural; o divagar do tempo e de outros tempos; um certo realismo que o autor torna mágico pela sua visão da infância; e o magistral uso da linguagem e do tom.
Este retrato e esta viagem ao passado tem a mais valia de permitir a identificação de uma grande parte da população nacional o que possibilita a sua adesão à obra e de funcionar como um registo de um passado e de um modo de vida que já não existe e que o presente e a tecnologia tornam exótico, o que também o torna apelativo.
Terei de regressar à obra de Rentes no futuro, pois parece-me que o seu modo peculiar e binocular de observar a realidade o tornar realmente uma voz única no panorama das nossas letras.
Editora: Quetzal | Colecção: língua comum | Local: LX | Edição/Ano: 5º, Jul 2014  | Impressão: Bloco Gráfico, Lda. | Págs.: 280 | Capa: … | ISBN: 978-972-0-14699-4| DL: 382502/15 | Localização: BLX BECCE 808.1/CAR (80374311)

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