Há muito que andava para me dedicar à leitura de Rentes de
Carvalho e perceber o que a torna apelativa, quer no estrangeiro, onde primeiro
granjeou uma horda de fãs, e em Portugal.
Gostei muito desta leitura, por diversos motivos, sendo que
o equilibro resultante dos mesmos é em si mesmo um dos motivos. Através de uma
autobiografia ficcionada, o autor revisita a sua infância e juventude até ao momento
em que visita pela última vez a terra transmontana de origem da família. Essa revisitação
resulta numa história em que o autor explora as fronteiras entre realidade e
ficção; o processo de construção da memória; o retrato burilado
da sociedade das primeiras décadas do século passado, a evolução das grandes cidades e a dureza da
vida rural; o divagar do tempo e de outros tempos; um certo realismo que o
autor torna mágico pela sua visão da infância; e o magistral uso da
linguagem e do tom.
Este retrato e
esta viagem ao passado tem a mais valia de permitir a identificação de uma
grande parte da população nacional o que possibilita a sua adesão à obra e de funcionar
como um registo de um passado e de um modo de vida que já não existe e que o presente
e a tecnologia tornam exótico, o que também o torna apelativo.
Terei de regressar
à obra de Rentes no futuro, pois parece-me que o seu modo peculiar e binocular
de observar a realidade o tornar realmente uma voz única no panorama das nossas
letras.
Editora: Quetzal | Colecção: língua comum | Local: LX |
Edição/Ano: 5º, Jul 2014 | Impressão: Bloco Gráfico, Lda. | Págs.: 280 |
Capa: … | ISBN: 978-972-0-14699-4| DL: 382502/15 | Localização: BLX BECCE
808.1/CAR (80374311)
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