Não consigo explicar porquê, mas
tinha uma ideia errada sobre o tema deste livro. Julgava que teria a
ver com refugiados e afinal não. Nesse sentido, foi uma desilusão
com que tive de lidar logo no início e quando resolvi confirmar com
a sinopse na contracapa. Passado este momento, entreguei-me à
leitura sem outras expectativas. Ainda assim, não foi um livro que
me conquistasse, no sentido em que é um tipo de temática que não
me é nada prioritária, logo se não fosse este erro da minha parte
e não teria chegado a ele. Mas isso não o torna um livro menor,
nada. É um interessante explorar das relações entre homens e
mulheres e também o de um tema nem sempre bem explorado e
desenvolvido, o da doença mental e do equilíbrio e /ou
funcionalidade dos seus portadores.
De que trata então o livro? É uma
história de amor / paixão actual. Um homem e uma mulher
encontram-se e fazem faísca. Ambos têm um passado e um presente que
os condiciona. São ambos casados e ele tem igualmente um filho.
Pesado na balança, avançam para uma relação a dois. Mas o passado
teima em desequilibrar os pratos. De tal modo que a separação é a
única solução. Depois há todo um processo de reconstrução e é
nesse processo que encontramos Isabel, a protagonista. Encontramo-la
no aeroporto sem pressa de ir a lado nenhum. Em capítulos
alternados, vamos então tendo acesso aos dois lados dessa paixão, o
dela e o dele, Afonso.
Dulce Garcia dá-nos diversos episódios
interessantes para fundamentar a sua “tese”de que as nossas
relações são condicionadas por todo o nosso passado, mesmo aquele
que desconhecemos. Ou seja, o nosso comportamento é formatado pelos
traumas dos nossos antepassados e só quebramos esse ciclo se
tivermos alguma consciência desse facto. Senão, estamos condenados
a perpetuar-los. E esta perpetuação aplica-se a todo o tipo de
relações afectivas, sejam familiares, sejam amorosas, sejam a
simbiose de ambas.
No que diz respeito ao tema da doença
mental, a autora não é panfletária, apenas, de algum modo, advoga
a necessidade de não menosprezarmos o apoio psicológico e nem o
olharmos de modo preconceituoso, seja para o próprio, seja para o
outro. Dá-nos um conjunto de personagens que – em diversos níveis
– enfrenta dragões e fantasmas, mas que não tem a capacidade ou
consciência para enfrentar só. E este acabou por ser a faceta do
livro que apreciei.
Editora:
guerra e paz | Local: L | Edição/Ano: 1ª 2017 | Impressão: Publito
| Págs.: 268 | Capa: Ilídio Vasco | ISBN: 978-989-702-252-4 |
DL: 420290/17 | Localização: Pax
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