Do desconfinamento IV | O valor da cultura

Como em tantas áreas da vida, não valorizamos o que temos até que o perdemos. Pois, só nesse momento, percebemos o espaço que ocupa na nossa vida. Mas como esse espaço é – não raras as vezes – imaterial, julgamos que não implica tempo, empenho, dedicação e conhecimento. E se estamos dispostos valorizar e pagar estas características noutras áreas, porque não o fazemos com a cultura.

Um dos desafios deste momento é que nos obrigou a olhar para a cultura – na suas diversas acepções – e nos confrontou com o desprezo e valorização que lhe votamos. E não apenas politicamente.

Enquanto cidadãos, que reclamam direitos e muito renitentemente cumprem deveres, não damos o devido valor à cultura. Ah, porque é cara! Não, cara é a sua falta. Mas poderemos de uma forma prática? Qual foi a última vez que adquiriu um bem ou o acesso a equipamento cultural? Ah, pois é! Todos gostamos de borlas, não? Mas, mesmo as borlas, têm um preço. E o preço é a comida na mesa, um tecto e condições para que artistas e técnicos nos possam inquietar, questionar, desafiar. A cultura tem um preço sim. E se estivermos todos comprometidos no valor do seu valor continuaremos a poder usufruir-la e a optar sobre o que podemos usufruir. Então, adquira um livro, compre um bilhete, doe o seu contributo a uma instituição, partilhe o que valoriza. Mas invista no seu futuro. Não esteja à espera que esteja lá disponível na sua etérea imaterialidade. Até a imaterialidade é finita.

O valor da cultura é o resultado do tempo, empenho, dedicação e conhecimento de inúmeras pessoas e do seu investimento e respeito. Como todas as relações, implica compromisso. Então, há que assumir esse compromisso, e esta será uma relação duradoura e compensadora. Vai ver que não custa nada.

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