Após
semanas de tratamento mediático único e exclusivo dos números da
pandemia, começamos novamente a registar o mundo que continuou com
as suas injustiças, incoerências e desgraças. Uma delas é o
outro, especialmente quando tem um tom de pele diferente e é alvo de
sistémico e endémico de medo, desconfiança e depreciação. Não
nos enganemos. Tudo isto existe, não é apenas fado e merece outras
linhas. Lá chegarei.
A
cada perda, a cada conquista, a cada passo reescrevemos a história.
Seja pessoal, institucional ou social. Faz parte da transformação e
(quero acreditar) da evolução porque passamos, enquanto indivíduos e sociedade. Mas há algo em que não podemos cair em tentação: apagar a história. Como se ao apagar a existência pudéssemos apagar
igualmente o sofrimento e viver um presente ou um futuro isentos de
novas dores.
Apagar
o passado e o seu sofrimento só nos leva a cair nas mesmas
armadilhas e em novo sofrimento. Queremos mesmo cair neste ciclo
vicioso? Cometer os mesmos erros? Reincidir?
Assusta-me
que não saibamos olhar para o passado e aprender com os seus erros.
Os erros não se apagam, corrigem-se. Não reincidimos, transformamos-nos. Também é um processo doloroso e difícil, certo.
E imperfeito, sim. Mas tornar o passado impoluto não nos faz mais
perfeitos, condena-nos à repetição indefinida dos mesmos erros.
Das mesmas imperfeições. Mas é a noção dessa imperfeição que
nos motiva a continuar e a procurar corrigir e a melhorar.
Não
defendo o passado, nem sou tradicionalista. Mas aceito a sua
existência e procuro fazer a minha parte para escrever um novo
presente e um novo futuro. Não somente com palavras, mas também com
acções. Por vezes pequenas, quase mínimas e imperceptíveis.
Gostaria que fossem mais impactantes, mas do pouco e do pequeno se
faz grande. A cada dia, a cada hora. Sem apagar a memória, para não
voltar repetir o passado.
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