Todos os jornais televisivos
destes dias apontavam que “este ano, as cerimónias … são simbólicas”. Este ano
e todos os outros, porque todas as cerimónias são simbólicas. A diferença é que
este ano têm uma participação reduzida, seja pelos participantes oficiais, seja
nos espectadores.
O que está a fazer muita
confusão é essa participação reduzida. Ao serem reduzidas à sua essência, ao
mínimo protocolar obrigatório, muitos dos seus participantes viram-se excluídos.
Logo, o seu estatuto passou de relevante a dispensável. E isso mexe com a
percepção que temos do nosso lugar na sociedade, não mexe?
Ora, qualquer cerimónia é
simbólica. É uma celebração de um momento relevante do passado ou a
manifestação pública de algo conquistado. Seja como for, é um momento de
demonstração perante o outro ou perante a sociedade. É um momento de
demonstração de um determinado estatuto. Todos querem ser participantes
directos ou indirectos. Senão os celebrados, pelo menos testemunhas da
celebração. Quando em eventos desportivos assistimos à cerimónia da entrega de
medalhas ou taças, na verdade o evento ou a prova já foi ganho no exacto
momento em que a meta foi ultrapassada ou o apito final sonido. Agora, é o
momento da festa, da celebração, da confirmação perante todos da superioridade perante
os demais. Do atleta x perante o atleta y, e o testemunho do acontecimento é
igualmente relevante, pois coloca o espectador num nível superior aos que não
tiveram essa oportunidade. E não é muito diferente noutro tipo de cerimónias.
Num casamento, muitas das vezes já seu deu o acto civil, sem grandes
testemunhas e sem glamour. Sem demonstração do novo estatuto social dos casados
e – quantas, quantas vezes – do estatuto socioeconómico das famílias
envolvidas.
Qual o simbolismo de cada
cerimónia? Depende do que pretende assinalar e da tradição cultural assinalada,
bem como a instituição em que se insere. Mas há de tudo: a medalha, o anel, a
hóstia, a bandeira, a salva, o lenço, a insígnia, o avental, o uniforme, um
qualquer objecto convencionado que represente o desejado…
Com as cerimónias deste ano a serem reduzidas à sua essência terão talvez o incremento de demonstrar o que realmente se celebra, sem demonstrações exteriores e fúteis, para consumo e demonstração única de estatuto. E lá está, com muitos, muitos excluídos e dispensáveis.
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