O nervo ótico, María Gainza

Há muito que este livro estava debaixo de olho e foi agora que me dediquei a ele, por ocasião da minha adesão ao Clube de LEytura Próximo Capítulo.
Este é um livro híbrido que por vezes se torna desconfortável de percorrer, porque não sabemos bem por que referências nos havemos de orientar. É algo entre um desabafo de diário, um registo de memórias, um labo B da história da arte (pessoal e alternativo), uma crónica, uma crítica estética, através da visão de uma narradora e protagonista, cuja persona se confunde com o que se sabe da autora. Como eventual ficção, parece sempre ficar aquém, porque não há exactamente uma história. Há episódios. Já como fonte de reflexão e questionamento sobre a escrita, a arte e como estas se mesclam na vida para de algum modo a impactar vale por toda a estranheza.
E são exactamente as questões que este livro me suscitou que o tornam interessante. Não terão uma resposta única, mas valem pela reflexão. Algumas dessas questões são: a arte acrescenta-nos? Mas eleva ou salva-nos? O seu questionar dos limites é benéfico ou maléfico? a arte é sublime? Então também o são a perversão e dor? O que é uma obra maior? Existe sequer? Quem é o seu apreciador? A quem tem a capacidade de deslumbrar, comover ou até transformar?
Este livro lê-se rapidamente e não se esgota em nenhuma resposta. Apresenta-nos cenas mortas e deixa-nos o papel de colocar as questões que tenhamos a capacidade de observar nas mesmas. Por isso, acredito que será um livro ao qual podemos retomar de quando a quando. Talvez variemos então quer nas questões, quer em eventuais respostas.
Título Original: El Nérvio óptico | Tradução (a partir do Castelhano): Mª do Carmo Abreu  | Editora: D. Quixote | Local: Alfragide | Edição/Ano: 1ª, fev 2018 | Impressão: Multitipo | Págs.: 167 | ISBN: 978-972-20-6432-3 | DL: 435688/17 | Localização: BLX OR  ROM  ROM-EST  GAI (80413679)

Comentários