Do desconfinamento XIII | O fim do que 2020 ia ser...

Apesar de faltarem ainda uns bons meses para o final do ano, só me parece possível apelidar 2020 como o ano que ia ser. Podíamos até argumentar que ainda pode vir a ser, mas, sendo realistas e conscientes de toda a incerteza vindoura, na verdade não será.

Como quase todos, tinha as minhas expectativas para este ano, pessoais e profissionais. Novos projectos, novas possibilidades, e algumas conclusões necessárias. O ano começou promissor e depois tudo tremeu.

Supostamente suspendemos tudo. Mas o tempo foi passando e - apesar de me saber afortunada em diversos aspectos – a sensação de suspensão transformou-se em desabamento. A vontade de querer fazer, de aproveitar o momento para pensar diferente, adaptar, sugerir, preparar e fazer parte da solução foi perdendo força. Por diversos motivos: cansaço, falta de retorno, perspectiva de indefinida continuidade, incoerências várias, mas sobretudo o próprio afastamento. Aos poucos, tudo e todos foram ficando longe, demasiado longe. E a energia esgotou-se.

Não sei ao certo quando a recuperarei. É certo que lá chegarei, mas quando? Tudo em nosso redor está ainda demasiado indefinido para poder sequer tentar prever. Mas sei que enquanto não retomar um determinado contacto com uma série de pessoas - público, colegas, amizades – e através, e com el@s, recarregar essa necessária dose de energia, a sensação continua será de desgaste.

E é a partir desta sensação, deste de sentimento que termino esta pequena série de crónicas sobre o meu desconfinamento. Ele continuará sobre diferentes e irregulares modos. Nós teremos de o percorrer pelas suas inúmeras curvas para contornar obstáculos que nos serão arremessados. Alguns no nosso afastamento e outros nas nossas redes de relações. Mas este é o momento de começar um outro algo que não vos sei explicar nem dizer o que poderá ser. Então este é o principio do fim ou o fim que permitirá um inicio: o fim do que 2020 ia ser...

Comentários

  1. Todos perdemos muito com a pandemia, pelo que me custa ouvir as teorias dos que a consideram como uma “oportunidade”, havendo até quem já fale, o que é mais bizarro, de “oportunidade perdida”... Bem, isto dava para uma conversa longa… Os rígidos protocolos de segurança implementados pelas bibliotecas municipais impedem que continue dentro delas o trabalho dos grupos de leitura. Se as plataformas digitais (Teams, Zoom, etc.) foram, ao princípio, meios de continuar a discutir livros entre leitores, acho que neste momento elas só contribuem para atrasar o regresso à normalidade. É cómodo, é naturalmente seguro ficar em casa e ver o mundo correr lá fora. A este propósito, lembrei-me da Alegoria da Caverna n’ A República de Platão. Pessoalmente, deixei de participar em grupos de conversas virtuais. Até porque há condições para se voltar ao presencial, sobretudo quando tantas bibliotecas dispõem de amplas salas e espaços abertos como jardins e pátios onde os leitores se podem reunir em segurança. Ontem, no CCB (Jardim das Oliveiras), assisti a uma conversa animada pela Helena Vasconcelos com cerca de trinta leitores. Estas conversas vão continuar em Agosto com outros intervenientes, é ver o programa de Verão do CCB. Na Casa da Achada, no domingo dia 19, teve lugar uma reunião presencial do grupo “Leitores Achados” em torno de um conto de Fernanda Botelho. E em Agosto outra se realizará. Uns caminham, outros ficam parados. Pois é, o problema é saber-se ao certo quando recuperaremos a energia perdida. Pelo andar da carruagem, vai demorar.

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  2. Caro Manuel,
    que bom "ouvir" as suas palavras...
    compreendo perfeitamente a sua opção e a sua posição. Até eu, que estou deste lado, me sinto dividida. Nalgumas situações, entre um excesso de zelo, algumas incoerências gerais, e depois os próprios ritmos e disponibilidades dos espaços, da programação e dos diversos níveis de equipas.
    Se tudo correr pelo melhor, este mês - nas Galveias - faremos uma última sessão on line. Foi uma aprendizagem, mas sinto tanta, tanta falta da troca directa, da dinâmica e da adrenalina das actividades presenciais. Mesmo de férias, não quis deixar de fazer esta sessão, e esta é uma daquelas situações em que o on line ajuda.
    Espero sinceramente que no futuro este seja um último recurso nas nossas conversas. Espero igualmente que nos possamos reencontrar por aí, numa das inúmeras tertúlias que ambos apreciamos. Essa energia única faz-me imensa falta, bem como de vos rever.
    Manuel, encontramo-nos por aí e bem haja!

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