O livro branco, Han Kang

O que primeiro me chamou a atenção para este livro, foi o seu título, que me remeteu imediatamente para os famosos livros brancos populares na minha juventude, que mais não eram do que cadernos de folhas lisas com uma encadernação mais cuidada e que apelava aos devaneios de escrita de cada, permitindo a premissa da acessibilidade à escrita de um livro. Nunca cheguei a ter um desses “livros”, mas sempre elegi cadernos de folhas lisas para o exercício de tais devaneios. E actualmente há tantos cadernos para todos os gostos e, para quem possa, tantas possibilidades de (auto)publicação, que até o famoso Livro branco caiu em desuso.

Ao desfolhar o livro, percebi que o mesmo era composto por pequenos capítulos e isso intrigou-me. Depois, percebi que o título remetia para o fio condutor do livro: a cor branca. Como uma das minhas orientações de leitura para esta temporada é sobre pintura, claro que a premissa de abordagem a uma cor me convenceu a lê-lo. E que bom que foi a sua leitura.

A premissa vem exposta no primeiro capitulo: escrever sobre coisas brancas. O que por si só é um exercício interessante. Mas depois essas coisas não são só coisas, no sentido de objectos materiais do quotidiano. São coisas imateriais e é através dessa imaterialidade que a autora nos tece a biografia de uma vida imaculada, uma vida em branco: a de uma irmã que morreu com poucas horas de vida e de que não existe senão na memória dos pais e cuja ausência pautou a sua existência. O livro branco é um livro sobre a luz que nos orienta os passos, a ausência de cor de uma vida por viver e do luto que nos pode preencher uma vida inteira.

Tradução: Mª do Carmo Figueira, a partir da versão inglesa | Revisão: Madalena Escourido | Editora: D. Quixote | Local: Alfragide | Edição/Ano: 1ª, jun 2019 | Impressão: Guide AG | Págs.: 149 | Capa: Rui Garrido/Leya | ISBN: 978-972-20-6778-2 | DL: 455428/19 | Localização: BLX PG 82-94/Kan (80439391)

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